Werner Herzog, os delírios do mundo conectado

A internet em debate em “Lo and Behold, Reveries of a connected world”, “Maus Hábitos, de Pedro Almodóvar e a propaganda anticomunista em “Boa noite e boa sorte”.

Filme "Lo and Beholf, reveries of a connected world"

Eis um filme de 2016 do cineasta alemão Werner Herzog, “Lo and Behold, Reveries of the connected world”. Entrou hoje em cartaz no Mubi. Na internet informam que está em cartaz na Netflix, mas depois terminam informando que está em outros países na Netflix, mas não no Brasil.

Acredito que ele não entrou nas salas de cinema em nosso país. E certamente não deverá entrar, pois não se trata de uma obra que possa ser assistida com interesse pelos simples mortais. É uma discussão ampla e longa sobre a Internet, principalmente enfocando questões acerca dos males que a internet tem provocado na humanidade.

Werner Herzog é um dos maiores cineastas do mundo. Tendo realizado filmes como “Fitzcarraldo”, “Aguirre, a cólera dos deuses”, “O enigma de Kaspar Hauser”, e mais recentemente o documentário “Encontrando Gorbachev”, seria o bastante para marcar uma excepcional produção cinematográfica. Mas ele tem inúmeros outros filmes extraordinários. Inclusive tem continuado a realizar até este ano.

Apesar de o considerar extraordinário cineasta, penso que esse “Eis os delírios do mundo conectado” é uma produção totalmente errada em sua concepção. Pois questões importantes como são apresentadas não podem ser debatidas assim. Com falas intermináveis sobre a questão. Colocando assuntos técnicos que o espectador de cinema só acidentalmente poderá saber. A não ser que seja um especialista em internet.

Afinal, quando Umberto Eco comentou que a internet foi importante para dar espaço de comunicação a idiotas, não estava sentindo ainda a força desse novo instrumento para a sua época da segunda metade do século XX. Como exibe o próprio filme, a internet começou numa Universidade da Califórnia no ano de 1969, e nos primeiros anos sua força ainda era pequena. Hoje então já podemos sentir que certamente a internet é uma descoberta mais importante que jornais, rádios, televisão. É a maior força de comunicação e que ainda não se estruturou totalmente. Werner Herzog dividiu seu filme em dez capítulos, mas na verdade, nas dez questões postas, cada capítulo poderia ser um filme longa, para então poder haver um debate bem compreendido.

Filme “Lo and Behold, reveries of a connected world”

Se o ser humano não queria enfrentar as questões que a internet coloca, deveria, quando apareceu no mundo, ter se abstido de tomar qualquer iniciativa, nem muito menos descobrir o fogo. O ser humano não cumpriria a sua missão. A internet não é senão um instrumento. O filme na sua última frase diz que talvez tudo mude se tivermos uma internet inteligente. Como assim? A internet não é inteligente, não é boa nem ruim. Quem a usa é que tem essas características. Se alguém se vicia em jogos na internet, o problema não é dela. Só uma sociedade de princípios comunistas poderá mudar a educação, e então encaminhar todos para uma vida mais inteligente. Não essa sociedade em que ainda vivemos, onde o grande interesse é o simples lucro. Morram para que outros vivam bem.

E essas questões que coloquei não se pode dizer que não têm nada a ver com cinema. Claro que têm. O cinema é o grande culpado, como já disse o poeta Ascenso Ferreira.

Enfim, o filme de Herzog não é inteiramente difícil para o espectador comum, pois tem algumas cenas com a participação de uma banda musical com a presença de violino, violão e banjo, além de outros instrumentos, que dão um sopro de alegria no entorno da narrativa.

Olinda, 01. 10. 21

Maus hábitos

Filme “Maus hábitos”

“Maus hábitos” foi o terceiro filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, e teve sucesso de público, mas certamente não foi uma bilheteria das maiores. Ou se foi isso, aconteceu pelo sucesso dos dois primeiros filmes e não por ele mesmo.

Mas o fundamental é que “Maus hábitos” está em exibição no Mubi e nos dá a oportunidade de assistir a um notável melodrama feito por um cineasta extraordinariamente competente para esse gênero. Almodóvar utilizou uma estória que além de trazer um argumento onde o drama pessoal é a parte principal, também conta com a ambientação num convento de religiosas e assim consegue divulgar uma crítica drástica e demolidora sobre o mundo doméstico das freiras. Mas, com a presença da personagem vivida por Carmen Maura, liga a narrativa totalmente a uma sequência do que se pode dizer mais popular. E a trama vai se desenvolvendo como o gênero pede. Entre personagens que não se definem, o espectador se deixa dominar sem saber quem na realidade é a chamada heroína. Se a prostituta ou a madre superiora. O que dá oportunidade para a conquista entre as duas atrizes principais, Cristina Sánchez Pascual e Carmen Maura. Pelo menos dois grandes boleros são colocados para a força de atração que o filme consegue ter. E o último se destaca ainda pelo guarda-roupa da atriz que deixa seus belos peitos à mostra.

Pedro Almodóvar está em atividade ainda hoje e apresentou recentemente um filme no Festival de Veneza com sucesso. Ele tem uma bela história como cineasta, com bons produtos, tanto quanto sátiras, e nesse sentido talvez o primeiro deles seja o mais divertido, quanto melodramas, a maior parte deles. Não é um cineasta que tenha inovado na criação da linguagem fílmica, mas nunca deixou de colocar sua capacidade direcional para realizar um produto bem posto. Assim, não inovou, mas criou com categoria cinematográfica.

Olinda, 07. 09. 21

Boa noite e boa sorte

Filme “Boa noite e boa sorte”

Enfim, assisti a um filme no Mubi do passado, embora ele tenha sido produzido em 2005. É um filme da Warner Bros, assim um filme de estúdio. E, apesar disso, é uma obra com todos os recursos da tecnologia atual do cinema. O caso é que “Good Night, and Good Luck” foi feito pelo cineasta George Clooney com o interesse de que ele se parecesse com um filme dos anos 50, para que a sua trama ganhasse maior dimensão de realidade. O filme é em preto e branco e a própria estrutura da narrativa segue os caminhos daquela época. Claro, tudo é parecido com um bom melodrama dos anos 50, mas ao mesmo tempo você sente que a construção do filme foi toda feita com a técnica do cinema que tem as facilidades da web.

A história que o filme conta é ligada ao período em que o senador McCarthy criou a sua campanha anticomunista, não apenas com ideias, mas com todos os argumentos mentirosos. No filme, a vítima principal foi o jornalista Edward R. Murrow. Mas não só ele, e sim a própria CBS, a empresa de alumínio Alcoa e muitos outros. Assim, o filme é um documento para esse momento político social da História norte-americana. Assim como é uma obra vigorosa como produção cinematográfica em preto e branco, com atores profissionais como David Strathairn, Jeff Daniels, Patricia Clarkson, Robert Downey Jr. E o diretor George Clooney também está no elenco. A trama entra em detalhes realistas com o processo da demissão de funcionários na CBS, e até intrigas naturais entre os personagens. Talvez fosse mais palatável se não fosse tão falado com diálogos longuíssimos. Mas tem uns quatro momentos muito belos com a apresentação de canções românticas, que se incorporam e que são grandes criações jazzísticas. A responsabilidade da música é de Jim Papoulis.

Olinda, 11. 09. 21

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