A crise na oposição abre novas perspectivas de mudanças no país

A grave crise que a oposição conservadora e neoliberal atravessa depois de três derrotas em eleições presidenciais é talvez a indicação mais visível das mudanças políticas que o Brasil vive desde a posse de Lula na Presidência da República, em 2003. O retrato mais eloquente disso é o esfacelamento do DEM (ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL), que vai sendo absorvido pelo novo PSD, o escoadouro natural de políticos conservadores descontentes de várias legendas, mas principalmente do DEM.

O fato tem extrema importância política, pois significa, no plano das classes dominantes conservadoras, o maior rearranjo de forças políticas desde o fim da ditadura militar e a instauração da Nova República. O fenômeno não está consolidado, mas a julgar pela rapidez com que avança a formação da nova sigla, não há dúvidas de que esta poderá tornar-se um importante polo das forças conservadoras nacionais, ainda que seus criadores, numa jogada de mimetismo político, procurem apresentar o novo partido como “nem de direita, nem de centro, nem de esquerda”.

É muito provável que na Câmara dos Deputados o novo partido ultrapassará a bancada do DEM em número de parlamentares. De toda forma, o estrago provocado ao velho partido, herdeiro em linha direta da ditadura militar, é grande o suficiente para alimentar avaliações derrotistas inclusive entre seus dirigentes, principalmente depois da adesão de Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina (eleito pelo DEM), que levou consigo os três deputados federais demistas catarinenses, abençoado pela oligarquia Bornhausen cujo herdeiro, o deputado federal (licenciado) Paulo Bornhausen acaba de desembarcar na nova agremiação.

No PSDB, partido que até as eleições presidenciais de 2010 tinha força, organização e lideranças capazes de fazê-lo desempenhar o papel de força estruturante da oposição conservadora e neoliberal, com expectativa de poder, a crise se instalou e ganhou novos contornos nas últimas semanas. O ambiente é de divisão e desnorteamento. “A confusão é geral”, diria o grande Machado de Assis, se escrevesse a crônica dos nossos dias.

A crise do PSDB guarda relação direta com o fracasso das táticas eleitorais do ex-candidato José Serra, as derrotas sucessivas diante das forças progressistas, democráticas e patrióticas lideradas por Lula. O patético artigo de FHC, tentando dar novo rumo ao partido, só aumentou a confusão e acentuou a cizânia.

Visivelmente, o PSDB rachou em três partes – uma capitaneada pelo senador mineiro Aécio Neves, outra alinhada em torno do governador paulista Geraldo Alckmin e uma terceira que obedece ao comando de José Serra. Tudo indica que a crise dos tucanos paulistas é a mais grave, com maior impacto e repercussão nacional. Em São Paulo os grupos de Alckmin e José Serra não se entendem desde pelo menos a eleição de 2006. E são cada vez mais nítidas as evidências da ação nada discreta de José Serra no esfarelamento do PSDB paulista, principalmente depois do desligamento do partido de praticamente toda a bancada de vereadores tucanos na Câmara de São Paulo, alinhados com o ex-governador e candidato derrotado à Presidência da República em 2010.

Da evolução objetiva da situação política brasileira, que produziu um vendaval eleitoral em 2010, resulta a dissipação das fantasias da aliança reacionária tucano-demista. A curto prazo, não há remédio que cicatrize as feridas internas profundas, nem há quem possa traçar com segurança um mapa do caminho viável para conquistar credibilidade e a confiança política do povo.
O rearranjo de forças partidárias em curso é o processo pelo qual facções conservadoras e neoliberais procuram reciclar-se dentro da nova realidade política. Independentemente de respeitáveis intenções pessoais e de salutares gestos de convivência democrática com o governo e a esquerda, não há indicações de que esteja surgindo um novo polo progressista.

Os novos fenômenos em curso na vida partidária terão que ser bem sopesados pelo governo Dilma e sua base democrática, popular, progressista e de esquerda. A crise da oposição abre objetivamente novas possibilidades de avanços no campo progressista. Mais audácia, maior movimentação no cenário político, mobilização, força transformadora, flexibilidade e maior grau de unidade são atributos que as forças de esquerda precisam desenvolver para se colocar à altura dos desafios.

Terceiro de um ciclo progressista inaugurado há oito anos, o governo da presidente Dilma assumiu perante o povo brasileiro o compromisso de avançar nas mudanças que aprofundem a democratização do país, façam-no trilhar o caminho do desenvolvimento com valorização do trabalho e justiça social e realizar as reformas estruturais. Tarefa gigantesca que só se realiza com uma esquerda e um movimento de massas populares fortes, organizados e unidos sob bandeiras transformadoras.