A imagem de Lula hoje e em 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo voltaram a bater seus próprios recordes de popularidade, conforme a pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta segunda-feira (22). A aprovação pessoal de Lula bate em 77,7%; a do governo em 68,8%; a série histórica CNT/Sensus nunca registrara números sequer próximos. Os cruzamentos dão vantagem ao governo em todas as regiões, faixas de idade, de escolaridade e de renda, entre homens e mulheres, das capitais às pequenas cidades.


 


A popularidade retumbante contrasta com a parte eleitoral da sondagem. A pesquisa espontânea para 2010 mostra Lula com 23,4%, seguido de longe pelos governadores tucanos José Serra (6,7%) e Aécio Neves (3,3%); mas Lula, pela Constituição, não pode disputar um terceiro mandato. 


 


Nas simulações testadas, Serra aparece em primeiro, com 37,9% a 45,7% das intenções de voto. Aécio, o outro presidenciável tucano, perde para o deputado Ciro Gomes (PSB), por 18,2% a 24,9%, mas ganha nos outros cenários. A ministra Dilma Rousseff (PT), melhora seu desempenho dentro da margem de erro, face à edição anterior da pesquisa, mas figura na quarta ou na terceira colocação, com 8,4% a 12,3%. Outros petistas testados (Marta Suplicy, Patrus Ananias) têm desempenho inferior.


 


Estas projeções devem ser tomadas com muita cautela, já que dois longos anos separam o eleitor da sucessão presidencial. Nem os partidos, nem os nomes e nem o país ou o planeta estão posicionados para 2010.


 


A popularidade do governo se explica menos pelo carisma do presidente, ou pelos programas sociais (que beneficiam diretamente apenas 16% do universo pesquisado) do que pela conjugação de três elementos: crescimento econômico ''robusto''; uma distribuição menos iníqua da renda, permitindo a emergência da nova ''classe média''; e liberdades democráticas ainda limitadas mas sem paralelo. O presidente pode dizer de boca cheia: os três fenômenos jamais coexistiram desde que o Brasil é Brasil.


 


Se a conjugação se sustenta são outros 500. O tempo fechou na cena econômica mundial, com as quebras de Wall Street na semana passada, e poucos arriscam prognósticos até para o mês que vem, quanto mais para 2010. O Brasil até o momento mostrou-se notavelmente infenso aos efeitos da crise, mas é consenso que sofrerá o seu contágio, faltando saber quando, por quanto tempo e em que grau.


 


Mesmo assim o presidente repete com convicção que fará seu sucessor em 2010, e joga duro em 2008 para de fato chegar lá. A exposição de Dilma como ''a mãe do PAC'' joga aí um modesto papel: Lula, um tático como poucos, seria o último a criar uma sombra para si próprio ainda na primeira metade do mandato. 


 


O grande preparativo de 2010 que está no forno é a eleição municipal, em especial nas capitais. Aí, os cenários obedecem em primeiro lugar às injunções locais, porém a resultante parece muito mais favorável a Lula do que foi a de 2004, faltando saber para onde irá São Paulo.


 


Em 2004 a metrópole paulistana elegeu Serra, o que foi decisivo para preparar a crise aguda de 2005. Quatro anos depois, o hoje governador joga uma cartada crucial para seu projeto presidencial: caso consiga levar o esquema Gilberto Kassab ao segundo turno, os números que a CNT/Sensus lhe atribui começam a deixar de ser abstrações. Se Geraldo Alckmin prevalecer na guerra civil intratucana, todo o plano de 2010 estará em xeque, a começar pelo próprio PSDB.


 


Além disso, depois do dia 5 ainda há o dia 26, em São Paulo com toda certeza e com Marta Suplicy em uma das vagas do segundo turno. Eleger a petista é quase tudo que Lula quer em 2008. E melhor ainda se o PSDB sair fraturado. Não por acaso Lula estava neste fim de semana no palanque de Marta em Vila Nova Cachoeirinha, periferia noroeste da capital paulista, e deixou claro para a militância que a vitória em São Paulo vai ajudar ''aquele baianinho'' em Brasília.