A lenta recuperação do emprego

 

O anúncio do salto de empregos em abril, feito pelo Caged (órgão do Ministério do Trabalho e do Emprego) no dia 18, está envolvido em um moderado otimismo, na percepção de que a recuperação é muito lenta, e na constatação de que, ao contrário do neoliberalismo crasso vigente antes de 2003, o Brasil hoje enfrenta melhor os trancos das crises econômicas internacionais. Nunca é demais recordar que os transtornos externos sempre foram o pretexto usado pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso para explicar o mal desempenho econômico do país durante os longos oito anos em que esteve à frente do governo.


 


Em abril, o saldo positivo foi de 106 205 empregos. No ano, o resultado da comparação entre os desempenhos de janeiro, que teve saldo negativo, e dos meses de fevereiro a abril mostra um resultado positivo, embora ainda muito pequeno: 48 454 novos postos de trabalho.


 


Merece também reflexão o fato desta ser a primeira vez em que, apesar de uma grave crise mundial, o número de pobres continua diminuindo no Brasil. Foi o que indicou um estudo divulgado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que avaliou a situação nas seis maiores regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador), mostrando que entre março de 2008 e março deste ano 670 mil pessoas saíram da pobreza.


 


Esta situação, nova e importante, revela a falência dos argumentos neoliberais que recomendavam, nas crises, aumento dos juros, arrocho salarial e diminuição dos gastos do governo – cujo resultado imediato era a explosão do desemprego e o empobrecimento da população. É um desastre que os brasileiros já conhecem: na crise de 1981 e 1983, o PIB caiu 2,9% e 6,7 milhões de pessoas empobreceram; entre 1989 e 1990, no início do governo Collor, a recessão foi de 4,2%, e mais de 3,9 milhões caíram na pobreza; em 1998, sob Fernando Henrique Cardoso, o Brasil quebrou, o PIB cresceu apenas 0,2% e mais 1,9 milhão de brasileiros se somaram ao já grande contingente de pobres do país.


 


A crise atual é a mais grave de todas. Mas ela tem essa diferença com as anteriores. Ao contrário da orientação neoliberal de Collor e Fernando Henrique Cardoso, diz o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, o governo atual manteve o aumento real do salário mínimo e os programas sociais (como o Bolsa Família), além de aumentar o investimento estatal e o uso do poder do governo para manter a demanda e, com isso, a economia funcionando. Esta é a principal causa da diminuição da pobreza no país, explica o economista.


 


São resultados que poderiam ser melhores, travados que foram pela teimosia do Banco Central em manter as taxas de juros em níveis estratosféricos; elas continuam nas núvens mas, parodiando a linguagem das atas do Copom, parecem agora com um ''viés de baixa''. É o que os setores produtivos do país, trabalhadores e empresários, esperam para acelerar a retomada do crescimento e do emprego que permitem a tantos patrícios escaparem das garras da pobreza.