A mídia escondeu os protestos dos trabalhadores
No livro ''Caminhos para uma comunicação democrática'', editado pelo Le Monde Diplomatique, o sociólogo espanhol Manuel Castells, renomado estudioso da […]
Publicado 01/04/2009 01:33
No livro ''Caminhos para uma comunicação democrática'', editado pelo Le Monde Diplomatique, o sociólogo espanhol Manuel Castells, renomado estudioso da área de comunicação, afirma: ''A maior influência que a mídia exerce sobre a política não é proveniente do que é publicado, mas do que não é, de tudo o que permanece oculto, que passa despercebido. A atividade midiática repousa sobre uma dicotomia: alguma coisa só existe no pensamento do público se está presente na mídia. O seu poder fundamental reside, portanto, na sua capacidade de ocultar, de mascarar, de omitir''.
O raciocínio de Castells se encaixa perfeitamente á cobertura que a mídia deu ao Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa do Emprego e dos Direitos, ocorrido no dia 30 de março. Na fase dos preparativos, os jornalões e as emissoras de tevê simplesmente não deram qualquer destaque a esta iniciativa histórica, que uniu as oito centrais sindicais e os principais movimentos sociais – como UNE e MST. Nem sequer uma linha do manifesto unitário, que exigiu ''emprego e salário, manutenção e ampliação dos direitos, redução dos juros e da jornada de trabalho sem redução salarial, reforma agrária e investimentos em políticas sociais'', foi divulgada para a sociedade.
A omissão foi ainda mais criminosa no dia do protesto. Ocorreram manifestações em 20 capitais e em várias cidades de porte. Cálculo parcial aponta que mais de 80 mil pessoas participaram da jornada de lutas em todo o país. Na capital paulista, 20 mil pessoas andaram vários quilómetros, realizando paradas em frente à sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), do Banco Central e da Bolsa de Valores. Ocorreram também bloqueios de estradas promovidos pelo MST, paralisações de escolas organizadas pelas entidades estudantis, ocupações de prédios públicos. Nada disso foi motivo de maior destaque na mídia hegemônica, que preferiu ''ocultar, mascarar e omitir''.
Nos jornalões, o ato teve poucas linhas e nenhuma manchete. Virou nota nas páginas internas. Já as emissoras de televisão, que são concessão de serviço público, preferiram desqualificar o protesto. Quase em uníssono, todas criticaram a manifestação em São Paulo, que ''congestionou o trânsito''. Seus comentaristas regiamente pagos – talvez de ressaca pela prisão relâmpago de Eliana Tranchesi, a dona da ilícita butique de luxo Daslu – fizeram silêncio ou atacaram os organizadores do ato. Carlos Sardenberg, recentemente promovido na TV Globo, ousou afirmar que ''o protesto foi inútil''. Se o que sai na TV é o que realmente existe, como sonham os que dominam este meio de comunicação, o histórico protesto de 30 de março não existiu.
Essa deplorável omissão, além de significar um erro jornalístico crasso, confirma mais uma vez a urgência dos movimentos sociais brasileiros se engajarem na exigência e preparação da Conferência Nacional de Comunicação, prevista para dezembro. A batalha pela democratização da mídia é hoje uma questão estratégica. Sem enfrentar a ditadura midiática, que ''oculta, mascara e omite'', será difícil avançar nas lutas dos trabalhadores por seus interesses imediatos e históricos. E pela consolidação e aprofundamento da democracia no Brasil, com a efetiva e ampla participação popular. Os seus anseios serão sempre uma ''não-notícia''.