Alckmin não quer debater privatizações nem cortes em programas sociais

A volta da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão deu o tom, de certa maneira, do que será a campanha política nestas duas semanas que nos separam da votação do segundo turno, em 29 de outubro. Lula, de maneira clara e incisiva, exibiu um programa de governo e não fugiu de nenhum tema no programa exibido na noite de 12 de outubro, nem mesmo de questões que muitos podem considerar como incômodas, como a tentativa de compra de um dossiê com acusações contra tucanos.



Não foi esta, porém, a postura do candidato tucano que, entre evasivas e uma pobre reprodução editada do debate realizado no último domingo na tevê Bandeirantes, evitou debater programas de governo e, monocórdico, insistiu na questão que o conluio tucano/pefelista com a mídia conservadora, transformou no cavalo de sua propaganda, a origem do dinheiro para a compra daquele dossiê.



Lula não fugiu desta questão e garantiu que seu governo tem o maior interesse em esclarecer aqueles acontecimentos mas, ao contrário do tempo da ditadura militar – do qual Alckmin e a direita parecem saudosos – o presidente da República não é chefe de polícia nem pode se comportar como tal.



Não há, na crônica republicana brasileira, nenhum governo em que a Polícia Federal e organismos como o Ministério Público ou a Controladoria Geral da União puderam agir de forma tão livre e ampla como no governo atual, investigando rigorosamente todas as denúncias; não há também memória de que governos anteriores tenham cortado na própria carne, demitindo acusados que – não importa sua posição hierárquica – tenham sido demitidos e submetidos à averiguação daqueles organismos.



Só para lembrar: Alckmin, enquanto governador de São Paulo, impediu a formação de 69 – isso mesmo, sessenta e nove – CPIs para investigar acusações contra seu governo. Sob Fernando Henrique Cardoso, na presidência da República, houve uma enxurrada de acusações graves contra membros do governo, inclusive alguns muito próximos do presidente da República, como o caso da compra de votos para garantir a aprovação da reeleição, os grampos do BNDES, o escândalo do Banco Central envolvendo Chico Lopes e o banqueiro Salvatore Cacciola, as acusações contra Eduardo Jorge (secretário particular do presidente), a denúncia de que Ricardo Sérgio de Oliveira (que foi o homem do dinheiro na campanha presidencial de FHC) cobrou uma comissão de 15 milhões do consórcio que comprou a Vale do Rio Doce, etc.



Nenhuma dessas acusações foi investigada, nem há notícia de que algum dos acusados tenha sido condenado.



No caso atual, explorado à exaustão pela direita, os acusados foram afastados das funções que exerciam e a investigação prossegue, mesmo que o aspecto principal da questão tenha sido deixado em absoluto segundo plano: onde está o dossiê? Qual seu conteúdo? Quais são as irregularidades ali relacionadas e quem são os envolvidos com elas?



A direita e o tucanato não querem nem tocar neste assunto pois há forte suspeita de que, como se diz, ficariam mal no retrato.



A direita tenta, a todo custo, forçar o centro do debate e fugir daquilo que é substantivo: qual é o país que cada um dos candidatos quer construir? Ou destruir, no caso de Geraldo Alckmin…



Lula disse a que veio: após afirmar seu apoio e decisão de que todas as acusações sejam aclaradas, entrou naquilo que interessa de verdade, a construção de um país mais avançado, justo, com desenvolvimento e crescimento econômico, distribuição de renda, consolidação e aprofundamento da democracia, afirmação da soberania nacional.



Alckmin, por sua vez, fugiu deste debate como se esta fosse uma pauta demoníaca. Recusa-se a debater as privatizações – diz apenas serem mentirosas as denúncias de que vai privatizar o Banco do Brasil, a Petrobras e outros órgãos públicos. Disse que vai manter o Bolsa Família, embora diga também que vai cortar gastos públicos, sem dizer de onde. E nem poderia dizer pois a tradição da direita é justamente cortar dos programas sociais, como fizeram Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, e o próprio Geraldo Alckmin quando governador de São Paulo.



Este é o debate necessário, que Lula e a frente A Força do Povo querem levar adiante, envolvendo os trabalhadores, os empresários, os intelectuais, o movimento social, os sindicatos, os partidos políticos. Um debate para reunir, em torno do próximo mandato de Lula, todas as forças progressistas, patrióticas e democráticas que querem construir um Brasil mais forte, justo e feliz. Alckmin e seus pares não querem este debate e, tudo indica, vão continuar insistindo, na propaganda eleitoral, na mesma ladainha típica de advogados de porta de cadeia. Não merecem governar o Brasil!