Banco do Brasil: quando a demissão é uma boa notícia

O grande fantasma da atual crise financeira mundial é o desemprego. Para o trabalhador, sua família e a sociedade em […]

O grande fantasma da atual crise financeira mundial é o desemprego. Para o trabalhador, sua família e a sociedade em geral, a perda do posto de trabalho é sempre uma péssima notícia.



Mas uma demissão recente, apesar do dever de se respeitar o servidor demitido, merece ser comemorada. Não pela figura do demitido, mas pela simbologia política que o ato administrativo da demissão revelou. Trata-se da saída do presidente do Banco do Brasil, Antonio Francisco Lima Netto, anunciada ontem, dia 8.



Ainda sem força e determinação política para enfrentar o mercado de frente, impor regulamentações sérias ao sistema financeiro e tomar medidas para coibir a agiotagem institucionalizada, o governo usa a demissão de Lima Netto como uma sinalização de que é chegada a hora de afastar os gestores públicos que relutam em abandonar a desgastada lógica neoliberal de mercado que ainda contamina a política econômica.



A oposição, como sempre, vê no episódio suspeitas de irregularidades mas, pelo que se saiba publicamente, não há sinais desse tipo de problemas. O próprio ministro Guido Mantega fez rasgados elogios ao agora ex-presidente do BB e anunciou que Lima Netto ocupará um cargo ''no conglomerado'' do próprio BB e ficará na presidência do banco até 22 de abril.



As alegações de parlamentares da oposição podem ser, na verdade, uma tentativa de esvaziar o sentido da mudança feita, que é o de alinhar o Banco do Brasil com a política anti-crise do governo, o que não ocorria sob a presidência de Lima Netto, que insistia em manter o banco submetido às imposições do ''mercado'' – isto é, dos setores financistas e rentistas que ganham com a política de juros altos.


 


Nessa linha, a administração Lima Netto relutava em efetivar a política de redução de juros e ampliação de crédito que havia sido determinada pela equipe econômica do governo. Segundo fontes do Planalto, o próprio presidente Lula teria se queixado da falta de colaboração do Banco do Brasil com os esforços do governo no combate à crise. Perguntado sobre a demissão de Lima Netto, Lula comentou que a redução dos juros bancários é uma “obsessão” de seu governo e deixou claro que usará os bancos públicos para “começar essa tarefa de reduzir a taxa de spread”.



Este foi o motivo pelo qual Lima Netto teve que ceder o posto para um sucessor,  Aldemir Bendine, que assume, por escrito, o contrato de gestão que o presidente demissionário nunca aceitou. Entre seus compromissos estão aumentar o volume de crédito a ser liberado pelo banco e melhorar a concorrência entre bancos, o que deixa implícita a necessidade de reduzir as taxas de juros cobradas pela instituição – propostas que são vistas como heresias pelo chamado ''mercado'', e que confrontam os interesses daqueles que se locupletam com os juros altos, mesmo que isso acarreta dificuldades à produção e desemprego. Numa clara demonstração de que os agentes do ''mercado'' entenderam e não gostaram da decisão tomada, que pode significar uma mudança de rumo na economia, as ações do Banco do Brasil tiveram forte desvalorização na Bolsa de Valores de São Paulo depois do anúncio da demissão de Lima Neto.