CartaCapital  revela engrenagens da mídia hegemônica

O experiente jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, com a colaboração de dois outros repórteres – Antonio Carlos Queiroz e Walter Rodrigues -, escreveu a reportagem de capa da última edição da revista CartaCapital : “Os fatos ocultos”. Trata-se de trabalho de investigação jornalística de grande relevância em tempos de hegemonia acachapante do que se convencionou chamar de “grande imprensa”. O texto revela o flagrante das engrenagens desta mídia pró-pensamento único, que dá sustentação política ao campo neoliberal e que, na atualidade, faz propaganda do candidato à Presidência da República pelo PSDB/PFL, Geraldo Alckmin.


 


Na última sexta-feira à noite, este Vermelho já reproduziu praticamente na íntegra o texto com a reportagem da revista, que procura levantar, passo a passo, os caminhos tortuosos pelos quais o esquema de comunicação da candidatura tucana monitorou a divulgação e, ao mesmo tempo, a ocultação de informações cruciais envolvendo o dossiê que petistas teriam tentado comprar para incriminar candidatos do PSDB, José Serra e Alckmin.


 


Exatamente há um mês, no dia 15 de setembro, teve início a operação, com a prisão de Valdebran Padilha e Gedimar Passos no Hotel Íbis Congonhas, em São Paulo. As equipes de Serra e Alckmin ficaram sabendo do episódio em primeira mão e foram as primeiras a chegar na sede da Polícia Federal, na zona oeste da capital paulista. No dia 29 de setembro, a segunda etapa da operação foi comandada pelo delegado Edmílson Pereira Bruno.


 


Após convidar quatro jornalistas (da Folha de S.Paulo, d'O Estado de S. Paulo, de O Globo e da rádio Jovem Pan), Bruno revelou as fotos do dinheiro apreendido naquela ocasião, pedindo que o material fosse divulgado impreterivelmente na noite do mesmo dia, no Jornal Nacional da Rede Globo. Fitas gravadas com a conversa do delegado com os jornalistas estão de posse da TV Globo e da Folha, mas foram ocultadas tanto pela TV quanto pelos jornais impressos. O único jornalista a publicar trechos desta fita foi Luiz Carlos Azenha, em seu site pessoal na internet.


 


O interesse extraordinário da TV Globo em dar espaço ao caso do dossiê fica mais evidente quando se constata que a rede preferiu ignorar um fato inescapável do ponto de vista jornalístico – o maior desastre aéreo da história da aviação brasileira: o choque entre um avião Boing 737-800 da Gol e o jato Legacy, no sul do Pará. Também a edição das capas dos jornais paulistas Folha e Estadão, forçando a relação entre as fotos do dinheiro e a pessoa do presidente, deixou mais do que ressaltados os interesses políticos partidários de prejudicar a candidatura Lula.


 


A reportagem da CartaCapital, por fim, questiona por que apenas um lado da história foi explorado pela grande mídia, enquanto eram omitidas as articulações de Abel Pereira, empresário de Piracicaba envolvido com interesses no Ministério da Saúde na época dos governos tucanos. Além disso, pouco se investigou sobre o papel do procurador da República Mário Lúcio de Avelar, comandante da operação que levou à denúncia da compra do dossiê e que foi o mesmo que trabalhou no caso da divulgação do dinheiro apreendido na firma Linus, do marido da atual candidata ao governo do Maranhão, Roseana Sarney.


 


Essas revelações do modus operandi da imprensa hegemônica brasileira, publicadas pela CartaCapital, chamam a atenção de todos os que se preocupam com a necessidade imperiosa da luta pela democratização dos meios de comunicação em nosso país. É a questão democrática que está em jogo. O aprofundamento da democracia exige medidas que garantam a pluralidade do pensamento e a diversidade informativa. Convém lembrar o programa do 6º. Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais em agosto passado. O evento contou com a presença, ao lado do presidente da Associação Mundial de Jornais, Eduardo Tessler, do presidente de uma consultoria chamada Inovation International Media Consulting, conhecida como braço empresarial da Universidade de Navarra-Opus Dei.