Chávez, o Mercosul e ''a mão do Império''

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, denunciou neste domingo (23) ''mecanismos'' do Império norte-americano que tentam evitar a união latino-americana no Mercosul. ''É a mão do império que move outra vez move estes mecanismos através da grande imprensa, a principal arma que o imperialismo tem atualmente para evitar nossa união'', disse Chávez no programa Alô Presidente.



No mesmo programa, que bateu a marca de 8 horas de duração, o presidente bolivariano anunciou que o PIB da Venezuela chegará neste ano a US$ 200 bilhões. É mais que o dobro dos US$ 90 bilhões de 1998, ano da primeira vitória presidencial chavista. E é o terceiro maior PIB sul-americano, depois do Brasil (US$ 967 bi em 2006) e já quase encostando na Argentina (US$ 210 bi em 2006). Movido a petróleo, mas não só isto, pois seus quase dois dígitos de crescimento anual deixam bem para trás a maioria dos países petroexportadores.



É este aporte estratégico que bateu à porta do Mercosul. Os Parlamentos da Argentina e do Uruguai já aprovaram o ingresso, faltando ainda os do Brasil e Paraguai. A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados brasileira deve realizar na próxima quarta-feira (26) a primeira votação do pedido de ingresso. É, sob todos os aspectos, um pedido que só pode merecer uma entusiástica aceitação.



Mas a mídia dominante latino-americana, ''principal arma que o imperialismo tem atualmente'', como bem diz Chávez, trata de barrar o ingresso da Venezuela no bloco sul-americano. Para isso intensifica a campanha de demonização de Chávez (o que, mesmo se por hipótese fosse verdade, não justificaria o movimento de sabotagem do Mercosul).



Como peça da campanha, essa mídia atribuiu a Chávez um ''ataque'' ou ''insulto'' ao Parlamento brasileiro, em sua visita a Manaus nesta quinta-feira (20), ainda que nada tivesse sido dito que nem de longe possa ser assim interpretado. Chávez disse em seu programa de ontem que ''é absolutamente falso que eu tenha ido a Manaus para fazer questionamentos sobre o governo, o Senado ou o Congresso, nem sobre as instituições do Brasil''.



Mais uma vez a reboque do partido da mídia, eis que a oposição convencional, ergue-se contra esse passo decisivo na integração continental. E não só ela.



O  líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), acha que a Venezuela está ''em marcha batida rumo a um regime ditatorial'' (embora tenha sido o país latino-americano que teve mais eleições na última década) e, antecipando o final da suposta marcha diz que ''não preenche o requisito da cláusula democrática do Tratado do Mercosul''. Vírgílio assinou uma nota dizendo que ''o PSDB fará o possível e o impossível para impedir a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul!'', assim mesmo, com interjeição e tudo.



Pronunciou-se também o primeiro vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC): ''O Chávez é um louco, ele não tem estatura para ser presidente de uma nação, de um povo, de uma democracia'', disparou. Chávez rebateu a ''agressão totalmente gratuita'', dizendo que ''no fundo me dá tristeza, pela pessoa que deu essa declaração e pelo cargo que ela ocupa''.



As forças brasileiras e latino-americanas interessadas na integração regional não podem titubear neste episódio. O que está em jogo supera os contornos dos governos de cada país (e diga-se de passagem que o da Venezuela tem sido um grande governo patriótico e socializante, com o que concordam os venezuelanos). Tem dimensão histórica – no sentido mais estrito do termo e sem nenhuma altissonância: nós latino-amerivcanos perdemos dois séculos atrás a oportunidade revolucionária das Guerras de Independência, entre outros motivos porque nos pusemos de costas uns para os outros; não podemos perder a segunda oportunidade que o século 21 nos traz, menos ainda por causa de futricas midiáticas movidas pela mão do Império.



Em uma hora destas, espera-se de cada deputado e senador que ouça os interesses do Brasil, que são os da integração continental. E que vote ''Sim'' ao ingresso da Venezuela no Mercosul.