Coalizão é condição primordial para o êxito do segundo governo

A montagem do novo ministério do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as articulações para as eleições das mesas diretoras do Senado da República e da Câmara dos Deputados, constituem-se o primeiro grande desafio a ser vencido para assegurar o êxito da reeleição conquistada. Da resultante dessas duas tarefas se verá, efetivamente, se o presidente reeleito encontrou os meios e os caminhos para construir o necessário governo de coalizão. Coalizão que não é “ajuntamento” sem norte, mas, sim, a construção de uma maioria política e social capaz de respaldar e impulsionar o processo político que torne realidade o programa com o qual Lula foi reeleito.


 



Na verdade, esta coalizão de forças vem sendo constituída desde que se iniciou o processo eleitoral, especialmente durante o segundo turno das eleições presidenciais deste ano, quando se procurou galvanizar em torno da candidatura Lula as forças de esquerda, de centro-esquerda, de centro propriamente dita e mesmo de centro-direita, contra a aliança neoliberal de direita liderada pelo PSDB e PFL. Além dessa ampla frente partidária, a campanha aglutinou o movimento social e atraiu setores da intelectualidade progressista que haviam se dispersado.



 


Neste sentido, procurou-se costurar um arco de forças que teve seu núcleo inicial formado pelo PT, PCdoB e PRB – partidos que formalmente constituíram a coligação “Força do Povo” —  mas que teve o apoio do PSB, setores importantes do PMDB, do PL, do PTB,  entre outras organizações partidárias. O esforço final, para derrotar o candidato oposicionista Geraldo Alckmin, se deu em torno de um programa, que tem como eixo central avançar rumo a um desenvolvimento econômico mais acelerado, com distribuição de renda e valorização do trabalho, destravando os investimentos públicos em áreas estratégicas para esse crescimento sustentado, reduzindo a taxa de juros e mantendo uma política externa que priorize a integração latino-americana e o papel destacado do Brasil no cenário mundial.


 


Desde a campanha eleitoral e mesmo antes dela, o PCdoB tem defendido que uma coalizão de partidos políticos e movimentos sociais é uma condição indispensável à governabilidade e à realização das mudanças. Por isso esse partido tem o diagnóstico de que as assimetrias de forças na composição do primeiro governo no qual prevaleceu o hegemonismo petista foi um dos fatores destacados que facilitaram o ataque cerrado da direita contra o presidente e o seu governo. No momento presente, o PCdoB tem reafirmado sua convicção de que é necessário erigir o governo de coalizão engajando-lhe forças políticas segundo alguns critérios: força real no Congresso, lastro social e político e compromisso efetivo com o programa.



 


O presidente interino do Partido dos Trabalhadores (PT), Marco Aurélio Garcia, enfatizou no último dia 16 de novembro o desejo da Comissão Política de seu partido de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva edifique um governo de coalizão no segundo mandato. “O nosso único desejo é o de que o próximo governo seja um governo de coalizão, um governo no qual seja reconhecida a importância do Partido dos Trabalhadores como a de outros partidos que participaram dessa coalizão”, disse Marco Aurélio, ao deixar o Palácio do Planalto, onde participou, junto com outros representantes da Comissão Política do PT, de uma reunião com o presidente Lula.


 


Sobre o espaço que o PMDB deveria ocupar no próximo governo, o presidente interino do PT disse que “hoje há uma disposição e um interesse não só do presidente, mas também por parte do PT, que o PMDB, por exemplo, possa integrar o governo não só como uma facção, mas como um partido com todos os compromissos. Compromissos esses de ordem programática e de apoio no Congresso Nacional”.


 


Por sua vez, um dos membros da direção nacional do PMDB, o ex-ministro Eunício de Oliveira, defendeu em entrevista recente que o país precisa mesmo “é uma coalizão político-partidária que envolva todo ou pelo menos a grande maioria do partido, já que vamos respeitar sempre as dissidências internas. O PMDB é um partido nacionalista, desenvolvimentista, voltado para as questões sociais, e não tem outro caminho hoje que não o de seguir o presidente Lula, que está no mesmo rumo”.


 


Ao que tudo indica, convencido dessa necessidade o presidente Lula trouxe a si a responsabilidade de construir a composição de seu governo. Tem sido refratário ao açodamento e vem cumprindo extensa agenda de contatos políticos com os governadores eleitos, com dirigentes partidários de várias legendas, e com personalidades da sociedade brasileira interessadas no desenvolvimento democrático e social do Brasil. Encontrará, é verdade, resistências. Ele terá que vencer as visões míopes daqueles que mesmo depois das irrefutáveis lições do primeiro governo continuam aferrados em concepções hegemonistas que quase levaram o povo e as forças avançadas à derrota. Mas, o presidente foi reeleito com legitimidade política e social mais do que o bastante para não se submeter aos equívocos do passado.