Com Temer a educação é para poucos
Uma escola para os privilegiados que vão dirigir o Brasil, a sociedade, a economia. Outra para a imensa maioria da […]
Publicado 27/09/2016 08:15
Uma escola para os privilegiados que vão dirigir o Brasil, a sociedade, a economia. Outra para a imensa maioria da população, de quem aqueles privilegiados esperam obediência, trabalho e eficiência.
Este é o sentido geral da reforma do ensino médio apresentada pelo ilegítimo Michel Temer e pelo ocupante do ministério da Educação Mendonça Filho, na última quinta-feira (22).
Ela tem o defeito adicional de constar da Medida Provisória 746, e isso foi visto com razão como uma fuga ao debate desta questão central, para enfiar goela abaixo a pretensão de patrocinar uma escola que, longe de produzir cidadãos autônomos que pensem com a própria cabeça, forme uma obediente e acrítica mão de obra dócil, voltada para as habilidades técnicas e longe do uso pleno do múltiplo potencial intelectual de cada um dos seres humanos.
A pretensão do governo foi amplamente criticada pela maioria dos educadores e especialistas, como um projeto para perpetuar e aumentar as graves desigualdades existentes na sociedade brasileira.
Ela parte de lugares comuns absolutamente acríticos. Um deles é a aversão dos jovens a temas tidos como “áridos” na época da internet e dos computadores. Outro mito assegura que há número excessivo de matérias, sendo preciso limitá-las. Outro, que decorre deste, é aquele que pretende atribuir aos estudantes a “escolha” das disciplinas que vão formar o seu currículo.
Neste sentido, torna opcionais, depois de um ano e meio de curso, matérias da área de humanas (como artes, educação física, sociologia e filosofia) e diminui a carga horária de história e geografia, além de excluir o ensino do idioma espanhol.
Isto é, pretende reduzir drasticamente a duração do curso e focar a escolha da maioria dos alunos nas matérias “técnicas”, transformando em profissionalizante o ensino médio.
Michel Temer tenta a maior e mais extensa reforma do ensino médio feita nos últimos 20 anos, e isso a torna ainda mais arbitrária e inepta por ser feita da maneira autoritária e prepotente. Sem nenhum debate com a sociedade, professores, especialistas, alunos, e entidades ligadas ao ensino que atuam na sociedade.
Outra questão, da qual a pretendida reforma passa ao largo mas que é intimamente ligada a ela, é o problema do financiamento da educação. A reforma pretendida pelo governo golpista, que reduz a carga horária, diminui o número de matérias (e, assim, o de professores), torna a educação mais barata para o governo. O ensino “caro” fica para as escolas de elite – a imensa maioria das quais é privada – que são frequentadas pelos filhos dos ricos, aqueles vistos como os que têm tempo para dedicar-se a matérias ligadas às humanidades. O ensino voltado aos pobres tem estas matérias excluídas ou com carga horária menor, sendo assim menos custoso.
É um ensino barateado que cabe no objetivo do governo dos golpistas de cortar as verbas da educação através da aprovação do teto dos gastos constitucionais para investimentos do governo nos próximos 20 anos.
A reação da sociedade foi rápida, sendo imediatamente constituído, para a resistência, o Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio, que reúne as entidades que atuam na educação, representando professores, alunos e pais.
Seu objetivo claro é a luta por um ensino médio universal, comum a todos os alunos, não importando a classe social de seus pais, e a exigência de uma educação básica pública e de qualidade para todos.