Desmoralizada, mídia tenta se fingir de vítima

 Entre os derrotados nas eleições presidenciais no Brasil, a mídia hegemônica foi uma das que saiu mais chamuscada desta batalha política. Há tempos na história do país que ela não ficava tão desmoralizada e desacreditada. Motivos não faltam para esta dura condenação. Com raríssimas exceções, a cobertura dos principais jornalões, revistas, rádios e emissoras de televisão foi descaradamente parcial e manipulada. Os números do Observatório Brasileiro de Mídia provam cabalmente que, durante todo o processo eleitoral, ela promoveu um verdadeiro linchamento do presidente Lula e isentou de críticas o candidato Geraldo Alckmin e a oposição liberal-conservadora. A mídia foi o principal partido da direita neoliberal no pleito.


 


Apesar de toda a manipulação dos meios de comunicação, o povo não entrou na sua onda. Soube separar o joio do trigo, rejeitou o falso moralismo dos imorais, votou contra o retrocesso neoliberal e apostou no avanço das mudanças num segundo mandato. ''O povo venceu a mídia'', estampou uma faixa na festa da reeleição no domingo, dia vinte nove de outubro último. ''Fora Rede Globo, o povo não é bobo'', gritaram alguns, relembrando os protestos contra a manipulação da maior emissora do país na campanha das ''diretas-já''. Ou cantarolaram: ''Ou, ou, ou, a Veja se ferrou''. Entre os militantes sociais há um forte clamor contra a ditadura midiática e seus ''deformadores de opinião''. E algumas pesquisas já atestam seu descrédito no conjunto da sociedade.


 


Aos poucos, o desmascaramento da mídia começa a produzir efeitos práticos, inclusive em setores que se iludiam com seu papel. Alguns jornalistas de prestígio, infelizmente ainda poucos, não se intimidam mais em criticar suas deturpações, que estariam colocando em risco a democracia e a própria ética jornalística. O presidente Lula também se mostra indignado com o tratamento que recebeu destes veículos. Ele já fala abertamente na necessidade de democratizar os meios de comunicação, de fortalecer uma rede pública de televisão aberta. Mas esta batalha, estratégica no campo das idéias, será duríssima. A mídia hegemônica, monopolizada e internacionalizada, não aceitará perder espaços de hegemonia nem recursos publicitários. 


 


Tanto que, ao perceber que corria risco, a mídia hegemônica iniciou seu contra-ataque. Passado o segundo turno, tenta agora se passar por vítima. A abjeta revista ''Veja'' faz escândalo por ter sido chamada a prestar depoimento na Polícia Federal. A mesma publicação campeã no uso da ''presunção de culpa'', que linchou o governo sem provas, afirma que está sendo perseguida. Já a poderosa Globo força um abaixo-assinado entre os jornalistas em defesa da linha editorial comandada pelo Ratzinger da emissora, Ali Kamel. No caso do jornal Folha de S.Paulo, todo dia saem notinhas que clamam contra uma tal ira contra a mída.


 


Como se observa, o jogo será pesado.O extremismo da parcialidade da maioria dos meios de comunicação na sucessão presidencial colocou como agenda prioritária a democratização da mídia. Trata-se de um dos principais gargalos do processo de construção de nossa democracia.Os movimentos sociais e os setores democráticos precisam interferir rapidamente nesta batalha de caráter estratégico.'' O povo venceu a mídia'' nas eleições presidenciais. Agora é preciso tirar as conseqüências práticas para o bem da democracia brasileira e da própria ética do jornalismo.