Elevação da Selic freia o PIB e castiga os trabalhadores

Patamar não era visto há muito, um contrassenso para o país que precisa de infraestrutura e desenvolvimento

A decisão do Comitê de Política Monetária Nacional (Copom) do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros, a Selic, pela sexta vez consecutiva, agora em 0,5%, revela, mais uma vez, o potencial nocivo da política macroeconômica imposta ao país. Com esse aumento, a taxa chega 14.75% ao ano, patamar atingido pela última vez em 2006, uma disparada iniciada em setembro de 2024, com uma alta de 0,25%, uma de 0,5% e três de 1%. Além de restringir o crédito pelo elevado custo do dinheiro, a alta da Selic tem impacto drástico na dívida pública – cada ponto percentual corresponde a R$ 48 bilhões.

A alegação de que os juros precisam ser elevados para conter a inflação dos preços dos alimentos e de energia não se sustenta. “Alimento é clima. Se tiver, como tivemos o ano passado, uma seca brutal e um calor enorme, é óbvio que vai cair a safra com a seca. E não adianta eu aumentar os juros que não vai fazer chover”, explicou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. “Da mesma forma, energia, combustível. Não adianta eu aumentar os juros que não vai baixar o preço do petróleo. Isso é guerra, é geopolítica.”

Para ele, o Brasil deveria seguir o exemplo do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, que exclui esses itens do cálculo de inflação para refletir melhor as pressões inflacionárias estruturais da economia. No Brasil, o BC utiliza como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que inclui alimentos e energia. Há ainda a perspectiva de desaceleração econômica global, decorrente do “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deveria contribuir para o fim do ciclo de alta dos juros.

A verdade é que existe uma forte pressão do mercado financeiro por garantias de que seus rendimentos parasitários não sejam interrompidos. Seus operadores capturaram o BC com a sua “independência” e impõem o arrocho fiscal com instrumentos como a manutenção da Selic em patamar elevado, além da pressão pelo corte nos investimentos públicos para garantir o padrão orçamentário em consonância com seus fabulosos ganhos parasitários.

Com a “independência”, a cadeira da presidência do BC tornou-se um dos postos mais importantes do poder público. “O BC não é independente como se imagina. Ele foi capturado totalmente pelo mercado financeiro”, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

Essa foi uma das perversas heranças do bolsonarismo. Basta lembrar que o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, deixou o posto após definição, em dezembro de 2024, de que haveria duas altas promovidas nas reuniões do Copom, de janeiro e de março, um choque de juros com três altas seguidas de 1%.

Ou seja: na defesa do parasitismo financeiro, com a alegação de que para domar a inflação, cuja meta é definida arbitrariamente, é preciso impor juros escorchantes. Na prática, é um brutal ataque ao desenvolvimento nacional – a experiência mostra que o corte na Selic tem resposta econômica automática.

É preciso considerar que o governo Lula herdou também a taxa de juros já elevada, à época em 13,75% – que, descontada a inflação prevista para os 12 meses seguintes, era de 7,54%, a maior do mundo –, patamar então considerado pelo presidente injustificável. Após a reunião do Copom de maio de 2023, Lula voltou a criticar a manutenção da taxa. “É engraçado, é muito engraçado o que se pensa neste país. Todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros. Todo mundo tem que ter cuidado. Ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas”, disse.

A taxa de 13,75% se manteve até junho de 2023, quando começou a cair – 13,25% em agosto, 12,75% em setembro, 12,25% em novembro, 11,75% em dezembro, 11,25% em janeiro de 2024, 10,75% em março, 10,5% em maio, patamar mantido até o início do ciclo de alta em setembro, quando foi para 10,75%. Desde então, as taxas foram de 11,25% em setembro, 12,25% em dezembro, 13,25% em janeiro e 14,25% em março.

É um contrassenso para um país que precisa crescer de forma sustentável para reduzir a pobreza, elevando a renda per capita com a incorporação de força de trabalho na dinâmica econômica. E mais: no Brasil ainda há muito o que fazer. O país precisa de amplas melhorias em sua infraestrutura.

O objetivo do BC de frear o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que deve ter crescimento em torno de 2% neste ano, para desaquecer a demanda, foi atingido. Com isso, o país terá menos emprego e menos renda para o povo. Esse é o resultado da governança do BC pelos interesses da oligarquia financeira, a velha e fracassada política da ortodoxia neoliberal.