Geopolítica olímpica põe Rio 2016 no páreo
O Comitê Olímpico Internacional (COI) embarcou para Madri segunda-feira (4) dizendo-se “muito impressionados” com o Rio de Janeiro, que disputa […]
Publicado 05/05/2009 13:41
O Comitê Olímpico Internacional (COI) embarcou para Madri segunda-feira (4) dizendo-se “muito impressionados” com o Rio de Janeiro, que disputa a sede dos Jogos de 2016 com a capital espanhola, Tóquio e Chicago. A geopolítica olímpica dá chances ao Rio.
Sim, pois há uma geopolítica olímpica, que opõe os princípios universalistas do megaespetáculo esportivo a uma tradição que concentra os Jogos nos países desenvolvidos. Das 29 Olimpíadas realizadas desde 1896, 18 foram na Europa, e a de 2012 será em Londres; seis na América do Norte, três na Ásia, duas na Austrália. Das quatro cidades que disputam 2016, só o Rio pertence a um país, e um continente, que nunca tiveram esta oportunidade.
A atleta Nawal El Moutawakel, presidente do COI e ouro em Los Angeles, também deve sentir esta assimetria. Marroquina, ela é de outro país e continente que nunca sediaram uma Olimpíada. Mas não há cidade africana entre as finalistas; o Rio fica sendo então a candidata do Sul do planeta, sempre injustiçado nesta e em tantas outras esferas.
É de pasmar que haja brasileiros torcendo contra a candidatura carioca. Argumentam que, ainda mais com a crise, não se pode gastar R$ 30 bilhões nos Jogos em um país miserável, mal educado, inseguro e poluído.
Estes não entenderam nada. Não entendem o excelente negócio que o esporte propicia – só o Rio, de olho na Copa de 2014, está construindo 19 hotéis. E não entendem o que o Rio 2016 significa por critérios impalpáveis, mas nem por isso desimportantes, como a autoestima popular.
Os chineses o entenderam, quando embasbacaram o mundo com os jogos de Pequim. O país do futebol tem motivos talvez ainda mais sólidos para entender.
Não tem preço aquilo que o mais popular dos esportes fez e faz pela imagem do Brasil, aos olhos de si próprio e do resto da humanidade. Não tem preço o que fez Pelé (o mais célebre dos brasileiros, compensando com um só gol de bicicleta quaisquer palpites infelizes que possa ter dado em política), que recebeu o COI no Maracanã. E um povo com autoestima e autoconfiança tem melhores condições em tudo mais.
Os adversários da candidatura estão em franca minoria. O próprio COI fez pesquisas de opinião nas quatro cidades: o Rio bateu Chicago, Madri e Tóquio, com 81% de aprovação. No Brasil como um todo, 69% apoiam.
Entre os que apoiam, e se movimentam, estão os governos federal, fluminense e carioca, o que é uma vantagem que o Comitê registrou. Luiz Inácio Lula da Silva, entusiasta do esporte desde muito antes de ser sindicalista, político ou presidente, além de ser ''o cara'', captou o que está em jogo. Desde o início entrou em campanha pelo Rio 2016. Contam que na reunião a portas fechadas com os cem membros do COI, no Copacabana Palace, levou a platéia às lágrimas.
Tudo isso não garante a vitória do Rio. A disputa será decidida, em 2 de outubro, por apenas 98 membros do COI: 45 europeus, 19 asiáticos, 16 africanos 11 americanos do norte, quatro oceânicos e três sul-americanos. Mas o Rio pela primeira vez está no páreo. E conta com argumentos imbatíveis se é que os ideais olímpicos valem mesmo para o planeta inteiro.