George Bush enfrenta divisão interna

Na última quinta feira, 23/08, o mais influente senador Republicano do Congresso dos EUA, John Warner, especialista em questões militares, exigiu de George Bush que traga de volta para casa um número significativo de soldados americanos que participam da ocupação do Iraque. Sugeriu até um número em torno de 5 mil até o Natal, para dar um recado claro ao Governo Iraquiano, segundo ele, insistindo que “o primeiro-ministro iraquiano Nouri Maliki é responsável pela atual dificuldade que as tropas americanas estão enfrentando na guerra do Iraque”. Não poderia haver pressão mais objetiva por parte do Governo norte-americano, explicitou o senador Warner, do que chamar à responsabilidade dos dirigentes iraquianos pelo futuro de seu país: – “Penso que não poderia haver mensagem mais clara do que o presidente dos EUA anunciar em 15 de setembro próximo, em comum acordo com os comandantes militares na frente de batalha, de que ele decidiu dar os primeiros passos da retirada das nossas tropas”, disse Warner.


 


O problema político que a Casa Branca deverá enfrentar é que até o dia 15 de setembro o comandante geral das tropas americanas no Iraque, general David Patreus e o embaixador americano no Iraque, Ryan Crocker deverão prestar esclarecimentos ao Congresso dos EUA sobre a situação militar e política da guerra. O professor de ciência política da Universidade de Virgínia, Larry Sabato, disse que “se George Bush perdeu o apoio de John Warner, isso significa que ele está com um problema muito sério pela frente”. Uma previsão da situação militar no Iraque foi divulgada na semana passada pelo Conselho de Inteligência Nacional (NIC na sigla em inglês) confirmando a visão de que “o governo iraquiano não tem tido êxito em promover a reconciliação política entre as várias facções políticas no Iraque, o que é um fator fundamental para a estabilidade do país”.


 


Na quarta-feira, 22/08, George Bush já havia declarado que uma eventual retirada de tropas americanas do Iraque poderia ter conseqüências parecidas com a saída dos EUA do Vietnam, provocando “um verdadeiro genocídio nos campos de batalha como ocorreu no Camboja”, após a vitória vietnamita na guerra de libertação em meados dos anos 70. “O preço da retirada das tropas americanas do Vietnam foi pago pela morte de milhões de cidadãos inocentes”, completou o presidente americano em um discurso em Kansas City diante de veteranos de guerra. A resposta a este tipo de provocação de George Bush veio rápido nas palavras da representante do comitê de relações exteriores da Assembéia Nacional do Vietnam, Ton Nu Thi Ninh: -“Trata-se de uma consideração totalmente descabida tentando utilizar o exemplo do Vietnam para se explicar no debate da questão iraquiana”, disse a deputada. A invasão das tropas americanas no Vietnam “foi uma guerra injustificada e errônea, em primeiro lugar, e analisar a questão pelo aspecto da retirada das tropas americanas é completamente equivocado”, concluiu ela. “O problema que está na raiz não é a retirada, mas o próprio fato de os EUA terem invadido o país!”. Hanói encara a retirada de tropas invasoras como a culminância da luta nacional de libertação para reunificar a nação. A deputada Ninh acredita que os EUA não aprenderam as lições da guerra do Vietnam: – “Penso que os americanos não têm outra saída no Iraque do que retirar suas tropas de lá”.


 


Em seu discurso para os veteranos de guerra Bush resolveu dar um caráter “histórico” ao seu raciocínio. Além de comparar a invasão do Iraque ao esforço de guerra no Vietnam, o presidente americano tentou fazer uma relação do que está ocorrendo no Iraque com a ocupação e a “democratização” do Japão depois de 1945, e também com a defesa da península coreana contra “o levante comunista em 1950”. Disse ainda George Bush que “a história não pode prever o futuro com certeza, mas essa mesma história pode nos lembrar que há lições a extrair aplicáveis à nossa época”. Assim, fica bem claro que o presidente americano não quer saber de aprender com a história, mas coloca os interesses da ultra-direita dos EUA acima de qualquer consideração humanitária. Até o antigo conselheiro de segurança nacional do governo Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski, declarou recentemente que “os americanos já aceitaram a realidade de que a guerra do Iraque não tem como ser vencida.”