Gil sai e leva um pouco da alegria do governo

O cidadão brasileiro Gilberto Passos Gil Moreira faz parte do grupo notável daqueles que influenciaram a cultura brasileira de duas […]

O cidadão brasileiro Gilberto Passos Gil Moreira faz parte do grupo notável daqueles que influenciaram a cultura brasileira de duas maneiras: pelas obras que produziram e pela atividade que exerceram em cargos públicos. Está, assim, ao lado de nomes como Gustavo Capanema, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade, homens que, em seu tempo, souberam unir a capacidade de produzir com a de administrar.


 


Gilberto Gil é reconhecido mundialmente como um dos totens da música popular brasileira. Quando ele aceitou, no final de 2002, fazer parte do governo Lula à frente do Ministério da Cultura, poucos imaginavam as profundas mudanças que seriam realizadas sob seu comando. Uma delas é visível no financiamento do cinema brasileiro. A distribuição dos recursos públicos foi de fato nacionalizada e a decisão sobre a destinação dos valores foi despersonalizada, rompendo com a lógica de ''panelinhas'' que prevalecia. O resultado é que, nos últimos anos, o Brasil se acostumou a ver, entre os estados de origem dos filmes nacionais alguns que, antes, raramente apareciam nela, com Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e tantos outros… A qualidade e a diversidade da produção brasileira ganharam com isso.


 


Mas talvez a mudança de maior efeito sobre os produtores culturais mais modestos e ligados ao povo seja a criação dos Pontos de Cultural, que é uma das marcas mais visíveis da atual gestão do Ministério da Cultura. Através convênios com o programa Cultura Viva, do Ministério, foram criadas incontáveis parcerias com entidades culturais populares, que passaram a receber apoio financeiro para melhor desenvolver sua ação.


 


O êxito é tamanho que mesmo a Itália, uma das sedes da cultura mundial, copiou o modelo e, há algumas semanas, o ministro Gilberto Gil participou da inauguração de 50 pontos de cultura em Roma.


 


Estas são apenas duas facetas das mudanças introduzidas na gestão da cultura brasileira, invertendo radicalmente a lógica neoliberal que comandou aquele ministério na década de 1990, e a lógica paternalista que vinha de antes.


 


Nesta quarta feira, pela terceira vez, Gilberto Gil pediu ao presidente Lula para sair do governo; nas duas anteriores, o presidente não aceitou. Desta vez, não teve jeito e acabou cedendo à argumentação do então ministro: cuidar de sua obra e dedicar-se à família. Compor e fazer shows são imposições das quais um artista do porte de Gilberto Gil dificilmente escapa. E Lula concordou.


 


O ministro que sai dirigia, no governo, a equipe que, sob sua direção, foi responsável pelas mudanças de fundo feitas na cultura brasileira. Por isso, sai tranquilo, com a certeza de que o trabalho vai continuar, principalmente a implantação do Plano Nacional de Cultura e do Sistema Nacional de Cultura. Ele disse sair já com ''ar de saudade''. Ele tem razão: vai deixar saudade… E o governo perde, com sua saída, um pouco da alegria e informalidade que marcam a gestão do presidente Lula.