Integração e separatismo enfrentam-se na Bolívia

A Bolívia e seu povo correm um grave perigo desde este sábado (15). A oligarquia dominante nos quatro departamentos da ''Meia Lua'' anunciou então seu plano ''autonomista'' de fachada e separatista de fato, que visa retalhar o sofrido, rebelde, heróico país andino. Paradoxalmente, a manobra coincide com o anúncio de outro plano, em sentido oposto: o ''Corredor Interoceânico'', projeto rodoviário de US$ 1 bilhão, anunciado neste domingo, que tem como coração a Bolívia.



A casta dominante da ''Meia Lua'', com centro no rico departamento de Santa Cruz, assemelha-se em quase tudo às oligarquias reacionárias bem conhecidas dos latino-americanos. Sua particularidade é o parentesco carnal com o nazifascismo, através de colônias emigradas da Europa com a queda do 3º Reich, em especial membros da famigerada Ustacha, a base de Hitler na Croácia.



Esse segmento oligárquico incorporou-se alegremente à classe dominante boliviana, sobretudo a partir de 1971, com a narcoditadura sob comando do general de ascendência alemã Hugo Banzer. Opôs-se com unhas e dentes ao movimento operário-camponês-indígena que triunfou na Bolívia com a derrubada de Gonzalo ''el Gringo'' Sánchez de Lozada, em 2003, e a vitória de Evo Morales nas eleições de 2005.



A vitória de um trabalhador indígena, sindicalista e fundador do Movimento Ao Socialismo (MAS), com um projeto antiimperialista e transformador, foi lida pela oligarquia cruzenha como uma ameaça ao seu reinado de grilagens e truculências. Quando a eleição da Assembléia Constituinte de 2006 deu ao MAS 53,7% dos votos, e apenas 28,6% ao direitista Podemos, ela concluiu que recobrar a hegemonia reacionária no plano nacional seria tarefa de futuro difícil e incerto. Tratou então de se entrincheirar nos quatro departamentos da ''Meia Lua'', onde mantém os governos locais.



É daí que nasce a armação ''autonomista'' – por ironia, dirigida contra a primeira Constituição do país, entregue a Evo Morales tamém neste sábado, que reconhece os direitos autonômicos tanto dos departamentos como de municípios e povos indígenas. O sentido antidemocrático e separatista da ''autonomia'' é evidente. O ''Estatuto de Santa Cruz'' determina inclusive que o governo local ''controle, de maneira direta, a exploração e comercialização de hidrocarbonetos'', principal riqueza natural boliviana, com suas maiores jazidas situadas na ''Meia Lua''.



A manobra da oligarquia cruzenha vai na contra-mão da maré antiimperialista e antioligárquica que cresce na Bolívia e em toda a América Latina. Uma busca mutilar a Bolívia, a outra pretende a integração continental.



Neste domingo, em La Paz, os presidentes da Bolívia, Chile e Brasil deram um passo decisivo na integração física do continente, com o memorando que lança o projeto do ''Corredor Interoceânico''. A rodovia, com custo de US$ 1 bilhão e inauguração prevista para 2009, parte do porto paulista de Santos, passa por Santa Cruz, por La Paz e vai até o porto chileno de Arequipa, ligando as duas costas oceânicas sul-americanas.



Com razão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na ocasião que ''toda integração deve começar pela Bolívia, porque este país está no coração da América''. Por este mesmo motivo a postura dos povos e das forças progressistas do continente só pode ser a de solidariedade ativa à Bolívia e ao desejo expresso da maioria de seus filhos, e de repúdio indignado a toda tentativa de dilacerar a nação-irmã.