Integração latino-americana: uma luta que vem de longe

Em palestra recente realizada na última sexta-feira em São Paulo, por ocasião dos 25 anos de circulação contínua da revista Princípios, o dirigente comunista Renato Rabelo – presidente do PCdoB – enfatizou o papel extraordinário que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva vem imprimindo em sua política externa com o esforço pela integração latino-americana.

 

De forma sintética, o palestrante dizia que Getúlio Vargas deixou como marca de sua passagem pela presidência a integração do Estado brasileiro contra os interesses regionalistas da oligarquia de então. Juscelino Kubischek, em sua análise, promoveu a integração física e econômica do país. E o atual governo Lula procura assegurar a integração da América Latina, a formação de um bloco econômico regional na América do Sul, em contraposição ao expansionismo neocolonialista do imperialismo norte-americano.

 

A luta contra a dependência colonial na América Latina começou já no século XIX. Neste ano de 2006, registramos os 180 anos da realização entre 22 de junho e 15 de julho de 1826, da reunião no Panamá que se denominou o Congresso Anfictionico, que tinha por objetivo criar uma confederação dos povos ibero-americanos, do México até o Chile e Argentina.

 

Tratava-se de um momento culminante das revoluções pela independência na América espanhola. Simon Bolívar e o marechal Antonio Sucre acabavam de libertar o Alto Peru (Bolívia), o último bastião da monarquia espanhola no continente. À exceção de Cuba e Porto Rico, toda América espanhola estava finalmente livre de décadas de sangrentas guerras contra o poder colonial.

 

No pensamento de Bolívar, este congresso Anfictionico tinha por objetivo fundamentar uma grande nação que, por sua extensão, população e riquezas naturais jogaria um papel de primeira ordem no mundo. Contra esta visão estratégica do Libertador Bolívar, se colocou o interesse regional de grandes latifundiários e comerciantes ligados aos capitalistas estrangeiros da época.

 

Esta aspiração legítima do “sonho” de Bolívar continua sendo uma necessidade  dos povos latino-americanos: a unidade contra a sanha hegemônica das grandes potências de hoje.

 

Como bem expressou o jornalista Olmedo Beluche em artigo publicado por ocasião dos 180 anos do Congresso Anfictionico do Panamá, a experiência histórica destes quase duzentos anos transcorridos desde aquele congresso mostra duas tendências claras: por um lado, as classes dominantes locais, em sua maioria, foram e continuam sendo antinacionais e hostis a qualquer projeto de cooperação e integração entre os países latino-americanos. A vocação destas elites tem sido a de servir de agentes do imperialismo, agora fundamentalmente norte-americano. Perfilam-se submissas ao projeto neocolonialista da Alca e aos denominados Tratados de Livre Comércio.

 

Por outro lado, a aspiração bolivariana de unidade e liberdade das nações latino-americanas não morreu com Bolívar, nem com o insucesso do congresso Anfictionico. Muito pelo contrário, mantém-se pulsante nas lutas dos movimentos populares, presente na elaboração de novos pensadores e se tornou a diretriz da política externa de importantes governos da América do Sul. Por isso as elites locais bufam com tamanha ira contra o governo do presidente Lula.