Lições dos mensalões demo-tucanos

São remotas as chances de José Roberto Arruda permanecer no governo do Distrito Federal. A investigação da Operação Caixa de Pandora, apimentada pelos vídeos correspondentes, parecem selar a carreira do único governador eleito pelo DEM (ex-PFL) em 2006, sobrevivente do Escândalo do Painel Eletrônico em 2001, que lhe custou o mandato de senador pelo PSDB.

A Caixa de Pandora – que na mitologia grega encerrava todos os vícios – deve gerar um processo judicial que, como de costume, se arrastará por anos. Mas as evidências recolhidas pela Polícia Federal tendem a gerar processos políticos, mais ágeis: uma CPI na Assembleia Distrital do DF; e um pedido de impeachment, a ser apresentado na quinta-feira (3) pela OAB-DF.

"Estamos todos decepcionados com as imagens que vimos. É preciso providências enérgicas para que os políticos deixem de ver a coisa pública como se privada fosse", afirmou o presidente nacional da OAB, Cezar Britto. Partidos, entidades e movimentos do DF mobilizam-se para pressionar pela saída do governador.

As mesmas denúncias ricocheteiam no iniciador de Arruda na política e seu atual desafeto, o ex-governador Joaquim Roriz, que seria o iniciador do esquema. Assim, a ação da PF desmantela de um só golpe os dois maiores esquemas conservadores da política brasiliense.

Enquanto isso, o Supremo julga o 'Mensalão Mineiro' do senador e ex-presidente nacional do PSDB Eduardo Azeredo (MG). A também tucana governadora gaúcha, Yeda Crusius, escapou por pouco de perder o mandato, beneficiada por erros políticos e de procedimento da oposição. Mas seu projeto de reeleição foi abatido pelo Escândalo do Detran-RS. E outra operação da PF, a Castelo de Areia, apura propinas distribuídas pela empreiteira Camargo Correia no governo de São Paulo – embora com escassa visibilidade na mídia, pois atinge o presidenciável número um das oposições em 2010, José Serra.

Assim, vão tombando os mantos de vestais puras e incorruptíveis com que o bloco PSDB-DEM tentou se disfarçar. A figura do presidente da Assembleia Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente (DEM), enfiando dinheiro pelos bolsos e em seguida as meias, fala por si.

O rosário de escândalos traz à tona uma questão de fundo: a relação contraditória, doentia mesmo, entre conservadorismo e corrupção no Brasil.

Desde a finada UDN de Carlos Lacerda, passando por Jânio Quadros, os golpistas de 1964 e o ex-'caçador de marajás' Fernando Collor, nossa direita sempre agitou a bandeira da moralidade e da ética, com farta cumplicidade na mídia que ela controla. Em nome da moralidade levaram Getúlio à morte, perseguiram Juscelino, cassaram mandatos como o de João Goulart. Ao fim e ao cabo viu-se, em todos os casos, que era o contrário do que pregavam.

Os próceres do PSDB, DEM, PPS e adjacências apenas reencenam, com menos talento, o mesmo velho script. O espetáculo da Executiva Nacional do DEM, adiando nesta segunda-feira um pronunciamento sobre o Caso Arruda, pareceu uma cena de ópera bufa.

Nestes dias de mensalões demo-tucanos, uma evidência se patenteia, para o eleitor tirar consequências daqui a apenas dez meses. Acautele-se com os personagens que enchem demais a boca com a ética: na maioria esmagadora das vezes, são os que menos a praticam.