O sentimento de classe da direita neoliberal

O programa político do Partido da Frente Liberal (PFL) exibido em rede nacional de rádio e tevê no dia 15 pode ser visto como um exemplo da hipocrisia política da direita brasileira. São onze minutos de lamúrias contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de apresentação, requentada, das mentiras divulgadas desde maio de 2005 pela mídia e por parlamentares conservadores nas CPIs.

 

É mais uma etapa da tática jagunça de sangrar o governo, embora as pesquisas de opinião divulgadas nos últimos meses demonstrem a ineficiência desse procedimento pois ele não leva ao crescimento eleitoral da direita ou à queda da aprovação popular ao governo e ao presidente.

 

Talvez seja exatamente por isso que o programa todo é apresentado como um panfleto anônimo e só no final aparece a imagem, sem som, de seu autor, o PFL. É uma espécie de reconhecimento da impopularidade dessa legenda de oligarcas e grandes banqueiros. Gente que domina o poder, no Brasil, desde o período colonial, tendo sido campeões no uso irregular de recursos públicos, no aparelhamento do Estado e do governo para manter seus privilégios e que, agora, enfrentando um governo composto por forças populares que não fazem parte desse conluio de proprietários.

 

E que revela, também, a perplexidade daqueles que, usando a tática jagunça que conhecem tão bem, jamais imaginaram que, desta vez, ela deixaria de funcionar. É um sentimento de contrariedade que também aparece em “análises” recentes, na mídia, onde os sabichões da direita e do neoliberalismo revelam não só inconformismo com o desempenho eleitoral pífio que se desenha para seus candidatos, mas também o escasso conhecimento que tem sobre o povo brasileiro e sobre as mudanças políticas e sociais recentes em nosso país, aprofundadas nestes quase quatro anos de governo Lula. Mudanças que, embora ainda iniciais, apontam para uma efetiva democratização em nosso país, com a incorporação de enormes massas da população no circuito do consumo, com a valorização da renda através de programas como o Bolsa Família, mas também do salário mínimo. Mas, mais do que isso, mudanças democráticas que as pesquisas eleitorais registram quando apontam o confortável desempenho eleitoral que Lula poderá ter nas camadas de renda mais baixa da população e também nas regiões mais pobres do país.

 

Um desses comentaristas, um jornalista chamado Fernando Rodrigues, escreveu na Folha de S. Paulo (em 14 de junho) que esta será uma “eleição atípica” pois “o eleitora parece não enxergar vantagens em fazer uma mudança de comando”!

 

Outro, João Mellão Neto, alinhava em O Estado de S. Paulo as razões pelas quais não votará em Lula (dia 16 de junho). Ele só não acerta porque seus preconceitos elitistas, de classe, o impedem de uma compreensão mais profunda de um processo que consegue identificar. “Os eleitores de Lula estão concentrados nas camadas mais humildes da população e no Nordeste”, escreveu. E complementou exibindo aquele preconceito elitista: “Trata-se de pessoas que não costumam ler jornais e tampouco se interessam pelos programas noticiosos na TV”. Assegura, nessa análise enviesada, que o povo não está preocupado com “a integridade da democracia”, embalados pelo crescimento de seu poder aquisitivo através do Bolsa Família. “E é isso que lhes importa”, diz. “Roubalheira por roubalheira, isso existe em todos os governos. Se é maior ou menor, isso em nada muda o dia-a-dia das pessoas humildes. E, portanto, não tem a menor relevância”.

 

Mellão consegue exprimir um aspecto crucial das razões da elite conservadora, da qual ele é um membro proeminente: ele se apresenta como um homem de classe média (mas faz parte de uma família de pecuaristas e exportadores de café), qualifica-se como jornalista, deputado federal e ministro de Estado (mas omite que é membro do PFL e foi ministro do Trabalho e da Administração de Fernando Collor de Mello, em 1992).

 

E demonstra, em sua argumentação, o sentimento de classe comum aos membros da direita neoliberal, faltando apenas arrematar com o velho argumento de que o povo não está preparado para votar!