Obama e os planos de dominação do Oriente Médio

O discurso do presidente dos Estados Unidos da última quinta-feira (19), em que o mandatário da superpotência imperialista anunciou o “novo capítulo” da diplomacia estadunidense para o Oriente Médio, por alguns apelidado de “Doutrina Obama”, é mais do que uma peça de retórica, algo que, é preciso reconhecer, o chefe da Casa Branca faz com rara maestria. Obama opina, critica, ameaça, ataca.

O presidente norte-americano tentou aproveitar a situação favorável criada após o assassinato de Osama bin Laden para reafirmar os compromissos do seu governo com a luta “contra o terrorismo” e a promoção do que chama “reformas democráticas” em todo o Grande Oriente Médio, abrangendo o Norte da África e a Ásia Central.

O discurso do chefe da Casa Branca foi fortemente influenciado pelos acontecimentos mais recentes na região, as revoltas árabes que abalaram as estruturas políticas de regimes pró-estadunidenses. O imperialismo procura situar-se na nova realidade e se apressa a tomar medidas que assegurem a continuidade do seu domínio. O próprio Obama reconheceu que “mudanças irreversíveis” tiveram lugar na região, daí a necessidade de “nova abordagem” para assegurar os interesses estratégicos da superpotência.

Obama procurou aparecer como paladino dos valores democráticos “universais”, como se estes tivessem sua matriz no sistema político e na cultura dos Estados Unidos, uma forma a ser replicada de acordo com as suas próprias conveniências políticas.

A instrumentalização do discurso “democrático” pelo chefe de turno do imperialismo norte-americano fica evidente quando concentra suas críticas, ataques e ameaças sobre a Síria, a Líbia e o Irã. Assim, o apoio que brinda a mudanças políticas e econômicas no Oriente Médio e Norte da África pode ser o caminho para novas ações intervencionistas.

Ao anunciar o “novo capítulo” da diplomacia norte-americana para o Oriente Médio e Norte da África, Obama deixou claro que os Estados Uinidos vão acionar todo o arsenal de instituições do seu chamado “soft power” para interferir nos assuntos internos, cooptar lideranças e organizações. Ele disse que os Estados Unidos continuarão a trabalhar com os governos, engajando-se ao mesmo tempo em prestar assistência a grupos internos reconhecidos ou não pelos governos.

A fim de garantir a estabilidade do domínio econômico dos Estados Unidos, Obama anunciou medidas de “ajuda” a países da região, tarefa na qual será decisivo, segundo ele, o papel de instituições como o Banco Mundial e o FMI. Numa demonstração da diplomacia do dólar, anunciou também um pacote econômico para o Egito que inclui US$ 1 bilhão em alívio de dívidas e US$ 1 bilhão em empréstimos.

Chama a atenção no discurso do presidente dos Estados Unidos o elogio da política de guerra de agressão, que está a ser posta em prática na Líbia. Obama comemorou que os Estados Unidos “lideraram” a intervenção militar na Líbia e exaltou o papel da Otan, cujos bombardeios maciços massacram a população civil. Numa revelação de total desrespeito às normas do direito internacional, pregou abertamente a derrubada do governo líbio, cujo líder seus aliados da Otan estão tentando assassinar.

Da mesma natureza foram as referências ao governante da Síria, que, segundo Obama, deve escolher entre conduzir a transição ou “sair do caminho”.

Como não podia deixar de ser, Obama abordou em seu discurso o complexo tema do conflito palestino-israelense. Aparentemente, uma grande novidade: a defesa da criação de um Estado palestino nas fronteiras anteriores a 1967, quando Israel, a partir da Guerra dos Seis Dias, intensiificou sua política expansionista e de extermínio do povo palestino. Neste aspecto há mais retórica do que fatos concretos. Ao lado da proclamação, o presidente norte-americano reafirmou a prioridade à “segurança” de Israel e anunciou seu veto à declaração de um Estado palestino independente, sem consulta a Israel, proposta que as lideranças palestinas pretendem levar à Assembleia Geral da ONU em setembro: “Ações simbólicas para isolar Israel nas Nações Unidas em setembro não criarão um Estado independente”, pontificou.

O presidente dos Estados Unidos referiu-se de novo às guerras de ocupação no Iraque e no Afeganistão. Não foi afirmativo sobre a retirada das tropas do Iraque até o final do ano, como havia prometido antes. Ficou na intenção, renovando a aposta no Acordo de Segurança de 2008, que prevê a presença de civis estadunidenses para assegurar o que chama de “parceria duradoura”. Quanto ao Afeganistão, reafirmou a mesma estratégia: mais presença militar e mais ações bélicas.

Significativamente, Obama declarou que o futuro dos Estados Unidos "está ligado ao Oriente Médio e o Norte da África" por aspectos econômicos, históricos, de segurança e de "destino". Com sua retórica própria, ele não se afasta de um aspecto essencial da política de Estado do imperialsimo norte-americano, independentemente de o governo ser Republicano ou Democrata: o seu atualizado destino manifesto de ser a potência dominante no Oriente Médio, região rica em recursos energéticos e de localização geográfica estratégica.

Os povos da região têm resistido de diferentes maneiras a esse domínio. Muito antes das revoltas árabes deste início de ano, o Oriente Médio já figurava como um dos focos da luta anti-imperialista no mundo contemporâneo. O “novo capítulo” da diplomacia norte-americana não vai reverter essa tendência.