Ortega vence e Nicarágua se reencontra com os ideais de Sandino

As eleições presidenciais e legislativas de domingo último realizadas na Nicarágua transcorreram em plena normalidade, com uma participação massiva e ampla dos eleitores. O Conselho Eleitoral Supremo do país, que corresponderia ao Superior Tribunal Eleitoral no Brasil, em sua última computação oficial, do dia sete com 91,48% de votos apurados, proclamou que o candidato da Frente Sandinista de Libertação Nacional, Daniel Ortega Saavedra, foi eleito presidente da Nicarágua com uma vantagem bem superior a oito pontos percentuais à frente do segundo colocado, o candidato da direita liberal Eduardo Montealegre.
 


Ortega obteve até aqui, 38,07% dos votos e Montealegre  que teve o apoio aberto do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, alcançou 29%. Em terceiro lugar ficou o outro candidato da direita, o ex-vice-presidente José Rizo, do Partido Liberal Constitucionalista, com 26,21%. Nos últimos lugares ficaram pela ordem Edmundo Jarquín, do Movimento Renovador Sandinista, com 6,44% dos votos e Edén Pastora, do movimento Alternativa para a Mudança, com uma votação de 0,27% dos votos. Todos estes percentuais serão evidentemente reajustados conforme o resultado final.


 


O comandante sandinista Ortega, na noite do último dia 7, já comemorava nas ruas de Manágua esta vitória significativa do povo nicaraguense, após três sucessivas derrotas eleitorais em 1990, 1996 e 2001. Ao mesmo tempo, todos os outros candidatos já  reconheceram o vencedor e nenhum deles indicou que possa ter havido problemas tão significativos que os impedissem de aceitar os resultados do pleito realizado no domingo.


 


“Estas eleições não podem se reduzir a uma simples mudança de governo, mudanças de visões dentro desse quadro de miséria e falência da Nicarágua enquanto país. Temos é que fazer uma revolução, mudar nossa consciência, nos integrar com o novo movimento que os povos da América Latina vivem”, havia dito Ortega em discurso antes das eleições na cidade de Granada, ao sul da capital, Manágua.


 


Segundo a lei eleitoral em vigor no país, Ortega pode se proclamar presidente em primeiro turno, pois necessitaria obter 40% dos votos válidos, ou 35% com uma vantagem de 5% sobre o segundo colocado. Nestas eleições estiveram em jogo a cadeira da presidência da República, da vice-presidência, 90 deputados para o Congresso Nacional e 20 deputados para o Parlamento Centroamericano (Parlacen). O fator que possibilitou esta vitória foi a força conquistada pela Frente Sandinista e a divisão na direita nicaragüense entre o partido da Aliança Liberal e o Partido Liberal Constitucionalista.


 


Estes resultados confirmam mais um dos fracassos sucessivos de aplicação do receituário neoliberal na América Latina, e ao mesmo tempo o avanço de correntes progressistas no continente além de representar um duro revés para a direita na Nicarágua. O modelo neoliberal em aplicação no país centro-americano já estava em curso há 6 anos, atualmente sob direção de Enrique Bolaños, que não conseguiu dar respostas às demandas e aos principais problemas do povo, como a pobreza e a desigualdade social. A Nicarágua só não está pior do que o Haiti nestes índices sociais.


 


Agora, com a vitória de Ortega a Nicarágua se reecontra com ideais de soberania, democracia e de justiça social de Sandino, grande símbolo da luta patriótica e popular nicaraguense. Na parte central das Américas reacende-se a esperança. Festeja o povo nicaraguense, festejam os povos latino-americanos. Os obstáculos serão muitos, assim como no passado o imperialismo norte-americano tudo irá fazer impedir o desenvolvimento e a soberania da Nicarágua. Mas, ela não estará sózinha.Contará com os bons e fortes ventos que sopram da  parte sul das Américas.