Qual o objetivo da campanha suja contra Netinho?

Criado pobre na periferia da capital paulista, negro, cantor de pagode e, agora, candidato do Partido Comunista do Brasil – este conjunto de atributos positivos incita o preconceito de muitos que não se acostumaram a ver os espaços de poder ocupados por cidadãos como Netinho de Paula, que lidera a disputa pelo Senado em São Paulo.

A ação da polícia contra a casa dos filhos do candidato comunista em Alphaville (SP) foi o último episódio de uma campanha de baixo nível contra o candidato. O episódio uniu uma promotora eleitoral no Estado e agentes policiais numa ação ilegal semelhante à que é praticada cotidianamente contra a população pobre e de pele escura: ações sem mandato judicial, tentativas de invasão de suas residências, insultos e exposição pública da privacidade dos cidadãos. É somo se dissessem: contra ele, que é negro e de origem humilde, pode tudo.

Foi uma ação condenável sob todos os aspectos, e de evidentes intenções eleitorais. Até porque acusações de ilegalidades eleitorais devem ser investigadas pela Polícia Federal, e nunca pela delegacia do bairro. Além disso, qualquer investigação policial exige a notificação do investigado, e não a truculência da polícia, como ocorreu contra Netinho. Depois, o motivo alegado foi exagerado: ele foi acusado de fraude em sua declaração de bens para a Justiça Eleitoral, numa compreensão eleitoreira da finalidade dessa declaração, cujo objetivo é a avaliação da evolução de seus bens depois do cumprimento do mandato.

O objetivo, fracassado, da campanha e das acusações contra Netinho é tirá-lo do páreo da disputa para o Senado. A ação da terça-feira (dia 28) foi uma provocação policial que recorda os piores momentos da ditadura militar e, segundo juristas ouvidos pela direção comunista em São Paulo, um absurdo, sem base legal, cuja responsabilidade deve ser investigada pala corregedoria da polícia.

Foi um ato insano, avaliou a direção estadual do Partido Comunista do Brasil. Cometido por gente que se surpreendeu com o bom desempenho do candidato, que comporá – com Marta Suplicy – a dupla dos senadores progressistas que serão eleitos no dia 3. Imaginavam que, por sua origem e pela cor de sua pele, Netinho seria um candidato fraco, no qual “se pode bater”. Há inclusive quem o julgue “despreparado” para ser senador, repetindo contra ele o mesmo preconceito usado contra o presidente Lula.

Mas o povo não se engana. Conhece Netinho, um político atento para os problemas da população mais pobre, com propostas consistentes e comprometido com o programa do Partido Comunista do Brasil. E tem uma identidade popular muito forte que o torna imune às acusações. Não cola, como diz o povo. Ao contrário, apesar da campanha de baixarias, Netinho cresce na aprovação popular e ganha apoio de intelectuais, sindicalistas, organizações do movimento social e, principalmente, de lideranças da luta contra a opressão da mulher.