Se investimento é ''gastança'', pagar juros é o quê?
O Ministério do Trabalho e Emprego, na semana passada, o segundo saldo positivo do ano na criação de empregos: a […]
Publicado 22/04/2009 15:26
O Ministério do Trabalho e Emprego, na semana passada, o segundo saldo positivo do ano na criação de empregos: a criação, em março, de 34.818 novos postos de trabalho com carteira assinada. Melhorou o resultado de fevereiro, que foi de 9 mil, indicando uma recuperação ante a grande queda iniciada em novembro, com a perda de 41 mil vagas, que foi aprofundada em dezembro com o catastrófico número de 654 mil postos de trabalho fechados. Janeiro, embora com o resultado negativo de 101 mil empregos perdidos, já indicava uma recuperação, muito lenta, que prosseguiu em fevereiro e março.
A velocidade da recuperação é muito lenta para o quê os trabalhadores, e o Brasil, precisam. Mesmo assim é uma novidade que se junta a outras notícias que atenuam o pessimismo ante a crise econômica. Um balanço publicado por O Estado de S. Paulo (dia 17) revela que vinte dos trinta acordos fechados no começo do entre indústrias e trabalhadores paulistanos foram suspensos. O corte no IPI, que favoreceu a indústria automobilística, levou à retomada da produção, puxando o aumento da atividade nas fábricas que produzem autopeças. No ABC paulista houve fenômeno semelhante, embora em escala menor. Lá, oito dos 44 acordos de redução de jornada e trabalho foram suspensos.
Contra a torcida daqueles que encaravam o agravamento da crise como o precipício que engoliria o prestígio do governo e do presidente da República, o conjunto de medidas contra a crise adotadas pelo governo federal, como o corte de impostos federais, principalmente o IPI, parecem ter respondido favoravelmente. Outra medida foi o anúncio do programa Minha Casa, Minha Vida, para a construção de um milhão de novas residências, que vai ativar a economia e criar empregos na construção civil e nas atividades econômicas ligadas a ela.
A disposição do governo de aumentar a disponibilidade de recursos para investimento transparece também na redução do superávit primário (a reserva de dinheiro feita pelo governo para pagar os juros da dívida pública) dos atuais 3,8% do PIB para 2,5%, anunciada no dia 15.
Há um forte debate sobre a crise, sua profundidade, e sobre a interpretação destes sinais de recuperação. De um lado estão os otimistas exagerados; no outro, aqueles que – na oposição ao governo não disfarçam a torcida pelo pior. Como os jornalões e as tevês da burguesia, e seus analistas econômicos, que continuam alardeando a crise, torcendo pelo seu aprofundamento. Ante as medidas anunciadas, acusam o governo de ''gastança'', de irresponsabilidade fiscal, dizem que o debate sobre os juros anda ''politizado'' demais, e por aí afora.
Tudo isso merece reflexão. Uma diz respeito ao otimismo exagerado. A crise está em andamento, e ainda não há concordância sobre sua evolução, nem aqui, nem no exterior. Por isso seus sinais precisam ser vistos com atenção e prudência. Outra se refere às acusações da direita e dos grandes financistas e seus porta-vozes contra o governo: pagar juros para os ricos sempre prejudicou o povo porque diminui o dinheiro do governo para investir em saúde, educação, moradia, aposentadorias e outros gastos de interesse dos trabalhadores. Se investir em tudo isso é gastança, entregar dinheiro de mão beijada para os ricos, na forma de juros, é o quê?