Tensão contra o Irã: o imperialismo vai pagar para ver?

A crescente tensão que opõe, de um lado, Estados Unidos e União Europeia (França e Reino Unido, particularmente) e o Irã, demonstra, mais uma vez, que a real ameaça à paz mundial tem endereço certo e conhecido: Washington, Londres e Paris.

As tais potências ocidentais, em sua decadência, teimam em reafirmar um domínio internacional que se esvai quando a crise econômica aprofunda o enfraquecimento das velhas nações imperialistas. E insistem em tentar acuar o Irã, acusado de manter um programa nuclear para construir uma bomba atômica.

Esta acusação é o biombo que esconde as reais intenções geopolíticas envolvidas. A agressão contra o Iraque, que devastou o país, abriu espaço para o inesperado (para os governantes do imperialismo) crescimento do Irã como potência regional, ameaçando a correlação de forças na região onde Israel tem praticado contra árabes e palestinos todas as barbaridades sabidas, sem encontrar pela frente um adversário à altura em armamento e capacidade militar.

A ascensão iraniana, desde a revolução de 1979 e a guerra contra o Iraque, fomentada pelos EUA (1980-1988) para enfraquecer o governo de Teerã, é a novidade na região com a qual os imperialistas não contavam. E trabalham, desde então, para eliminá-la.

Mas o Irã contemporâneo, nascido da revolução dirigida pelo aiatolá Khomeini, é um país controverso mas unido, com forte orgulho nacional e dono de uma capacidade militar crescente, como demonstrou nos exercícios navais do final do ano, onde exibiu perante o imperialismo uma musculatura bélica considerável. Dono de uma marinha moderna e eletronicamente sofisticada, mostrou uma capacidade de autodefesa notável, com mísseis que podem atingir desde os porta-aviões norte-americanos que desfilam ameaçadoramente no Golfo Pérsico até as bases dos EUA na região e mesmo uma capital sensível, deste ponto de vista, como Tel Aviv.

Essa capacidade militar dá suporte à advertência feita pelo ministro da Defesa iraniano, o general Ahmad Vahidi, para que os navios de guerra dos EUA deixem de circular pelo Golfo. "Sempre afirmamos que a presença de forças não regionais no Golfo Pérsico era nociva e só poderia criar distúrbios. Portanto, pedimos que não estejam presentes nesta via marítima", disse o general, numa declaração que a mídia conservadora interpreta como um desafio às “potências ocidentais”. Não se trata de uma bravata ofensiva, mas a manifestação preocupada de um chefe militar cioso da defesa de seu país ameaçado pela presença militar estrangeira em suas fronteiras.

Além dos aspectos militares, o quadro se agrava neste início de ano depois que o governo do presidente Barack Obama aprovou leis para endurecer as sanções econômicas contra o Irã, e a França prepara-se para fazer o mesmo. Adotam o caminho de aprovar leis nacionais que pretendem impor sanções unilaterais a um país soberano porque Rússia e China se opõem à aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de mais sanções econômicas contra o Irã, defendendo o caminho mais sensato oferecido pela diplomacia.

Obama e seu parceiro francês, Nicolas Sarkozy, têm motivos que não confessam para endurecer a linguagem contra Teerã – vão enfrentar eleições este ano e imaginam que, rosnando contra nações que não acatam as ordens dos chefes do imperialismo, vão conseguir fatias maiores do eleitorado conservador. São acompanhados, e aplaudidos, pela direita que governa Israel, que deseja tirar de seu caminho um poder militar que pode contrabalançar o poderio do exército israelense na região.

A ameaça de guerra é real e concreta, e já se traduz num aumento do preço do petróleo que pode se transformar numa escalada se a tensão continuar. Afinal, se o Irã fechar mesmo o Estreito de Ormuz, que é um verdadeiro oleoduto dado o volume de petróleo que circula por ali – calcula-se que é da ordem de 40% do consumo mundial – o preço do petróleo pode explodir, contribuindo para aprofundar ainda mais a crise que corrói a economia dos países ricos.

O Irã demonstrou, com a manobra militar do final do ano, que tem força militar suficiente para fazer isso, embora seu governo negue essa intenção. É preciso ver, na sequência dos acontecimentos, se as tais “potências ocidentais” terão a irresponsabilidade de pagar para ver. O pavio está aceso para uma explosão de consequências que mesmo os mais ousados analistas militares não conseguem prever. A ameaça à paz mundial tem endereço certo e conhecido, esta é a conclusão; e ele fica nas capitais do imperialismo, e não na vizinhança dos desertos do Oriente Médio