Tragédia social afunda apoio a Bolsonaro
A promessa de melhorias sociais e infraestruturais foi um dos fatores que elegeram Jair Bolsonaro para presidente da República. Não […]
Publicado 05/09/2019 00:07
A promessa de melhorias sociais e infraestruturais foi um dos fatores que elegeram Jair Bolsonaro para presidente da República. Não havia uma definição clara sobre como essa questão seria tratada, mas ela apareceu com destaque em meio às falas difusas sobre macroeconomia e política monetária, além da ênfase na chamada “agenda de costumes”, no “combate à violência” e no “fim da corrupção”. Era uma salada de falsos conceitos, ideias sem nexo e fatos incompreensíveis, servida no cardápio eleitoral bolsonarista.
Essa miscelânea foi impulsionada pelo complexo processo que passou pelo golpe do impeachment e pela deterioração econômica do país, mas tinha por trás o programa de governo ultraliberal e neocolonial — a viga mestra do projeto que venceu as eleições de 2018. Era óbvio que seria muito complicado fazer dessa engenharia algo que emprestasse solidez ao governo. À medida em que as promessas começaram a sair do papel, o resultado surgiu logo.
Como sintetizou o jornalista Reinaldo Azevedo, Bolsonaro prega para os seus convertidos na certeza de que pode manter sua tropa unida. Segundo ele, a pesquisa Datafolha mostrou dados eloquentes a respeito. A fala de Bolsonaro chamando os governadores do Nordeste de "paraíbas” foi rejeitada por 69%. O repúdio à indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington chegou a 70%. O mais relevante é o índice de reprovação do presidente, que subiu de 33% para 38% num curto espaço de tempo.
O determinante é constatar as causas dessa queda, que pode levar o governo cada vez mais para o isolamento. O movimento “DireitosJá! — Fórum Pela Democracia”, lançado recentemente, permite a afirmação de que a erosão do apoio da base social que optou pela chapa bolsonarista é um processo progressivo e irreversível.
Outro exemplo que evidencia essa erosão é a retomada dos protestos dos caminhoneiros que, conforme mostra a Folhapress, ressurge com fortes críticas a Bolsonaro. Essa baldeação é um exemplo inquestionável de que a esperança nas melhorias sociais e infraestruturais se evapora. O mesmo pode ser dito a respeito do desemprego, o maior flagelo social desse programa de governo, um drama que nenhuma maquiagem propagandística pode amenizar — nenhuma medida contracionista foi claramente referendada pela maioria dos seus eleitores.
Essa tendência tende a progredir à medida em que aumentar a percepção de que o programa desse governo não investe no caminho do desenvolvimento e rompe com a lógica do progresso social e da democracia para promover o entreguismo, a destruição da soberania nacional. É um prognóstico que decorre dos cânones do manual neoliberal que, quando aplicado em outras circunstâncias, resultou em trágicos e vergonhosos índices de injustiças sociais. O que parece ser o uso cego de certos instrumentos teóricos na verdade obedece à batuta dos que regem a dinâmica da economia ancorada no rentismo.
Evidentemente, o ponto, mais do que nunca, é a questão nacional. E o combustível para essa questão é a geração e a distribuição de renda, sobretudo por meio do emprego, a prioridade à geração de trabalho. Não é possível falar nesses termos sem dar prioridade a algumas premissas básicas. A principal delas é que um país como o Brasil não se desenvolve sem um Estado sob orientação desenvolvimentista. É por isso que os subterfúgios do governo são inaceitáveis. E, mais do que inaceitáveis, irresponsáveis. São essas atitudes que criam as condições para a ampliação crescente da oposição ao bolsonarismo.