Triste fim do usurpador Michel Temer

Cada letra do documento denominado “Uma ponte para o futuro”, apresentado pelo usurpador Michel Temer como plataforma política do seu governo, era uma garantia de que o Brasil ingressaria no caminho para um passado longínquo, pré-Revolução de 1930. Agora, quando ele se prepara para entregar a faixa presidencial usurpada ao presidente eleito Jair Bolsonaro, o que era óbvio está materializado. A aplicação daquele documento golpista aplainou o terreno para o agora ultraliberal e neocolonial programa de governo Jair Bolsonaro-Paulo Guedes.

A “ponte” de Temer era um amontoado de retalhos de experiências que resultaram em fracassos estrondosos, uma travessia certa para um modelo que só trouxe sacrifícios e amarguras para o povo, agora melhor definido pelo futuro governo de extrema direita. A conclusão é óbvia: ao se bandear de mala e cuia para o golpismo, o presidente usurpador prestou relevantes serviços ao projeto que pretende destruir toda a construção soberana e democrática que custou sangue e vidas de muitos brasileiros.

Temer, antes mesmo de vestir a faixa presidencial usurpada, destravou a língua para se apresentar como piloto do processo político golpista. Em um programa do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em rede de rádio e televisão, ele deitou falação sobre a sua “ponte”. Mas até então, a ideia, como a Feira de Acari, era um mistério. Ela só ganhou nitidez quando o usurpador deu andamento ao processo de tramitação do que seria a Emenda Constitucional 95 — chamada de “Emenda do teto dos gastos”, uma “reforma fiscal” para transferir recursos orçamentários dos pobres para os ricos —, a terceirização e a “reforma” trabalhista.

A restauração da ordem neoliberal implicou, também, a destruição das barreiras de contenção ao entreguismo, com uma política externa subordinada à diplomacia do dólar, condizente com a cobiça dos trustes e oligopólios estrangeiros sobre as riquezas naturais do país, o erário público — a liberalização financeira é a base da farra rentista —, as estatais, a força de trabalho e o mercado interno. Não sem motivo, esse conjunto básico de elementos que dão sustentação à soberania nacional e à democracia de massas — o desmonte da estrutura sindical e trabalhista, além da exploração desenfreada da força de trabalho fecha canais de participação popular na dinâmica do país — entrou na alça de mira dos golpistas.

O resultado de tudo isso, como era esperado por quem enxergava o caminho para onde a “ponte” de Temer conduzia, é o desastre social. Mazelas erradicadas ou atenuadas no ciclo de governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estão de volta, com destaque para a pobreza extrema e a disparada do desemprego. Sem falar na corrupção desbragada, o mote do moralismo de fancaria para deflagrar a marcha golpista.

Cumpre ainda registrar o malogro das intenções golpistas de figuras como Aécio Neves e Eduardo Cunha, que, ao lado de Temer, giraram a ignição do golpe. Com eles estavam caciques do tucanato interessados no espólio golpista, imaginando que assim criariam um atalho para o retorno à função de operadores políticos da velha ordem neoliberal. Foram atropelados pela emergência das forças políticas de extrema direita, um caso típico de tiro pela culatra. Engolidos pelas circunstâncias que ajudaram a criar, caíram em desgraça e foram relegados a segundo plano na nova configuração de poder surgida das urnas.

O saldo da aventura irresponsável de Temer e seus asseclas é melancólico para o país. Sua “ponte” deu frutos para quem semeou o golpismo, mas ele sai do Palácio do Planalto e entra para história com a marca indelével de usurpador e mercenário político. Será lembrado, também, pelo repúdio popular ao seu desastrado governo. Passa a faixa presidencial para Jair Bolsonaro isolado politicamente, com a fama de bajulador do presidente eleito e sob ameaça de ser preso pelo mesmo Estado de exceção de que se serviu para ocupar o cargo usurpado. Sua aventura golpista terá um triste e merecido fim.