Violência tucano-midiática para blindar Serra e Kassab

A manipulação política do noticiário é um câncer que a democracia brasileira ainda não expurgou. Hipocrisia,  torpeza, parcialidade e sensacionalismo […]

A manipulação política do noticiário é um câncer que a democracia brasileira ainda não expurgou. Hipocrisia,  torpeza, parcialidade e sensacionalismo são os sintomas dessa doença que atinge nossos meios de comunicação que – é sempre bom lembrar – funcionam sob concessão pública.


 


Durante a semana que passou, houve três demonstrações desse cinismo midiático. Começou na segunda-feira (13), com comentaristas de jornais e blogueiros profissionais pró tucanos promovendo um verdadeiro linchamento da candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy. Alegaram que sua propaganda invadiu a vida privada de seu adversário, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), ao sugerir ao eleitor que procurasse saber mais sobre a biografia do candidato.


 


Dias depois, novo episódio misturou jornalismo e interesses políticos. A cobertura do confronto entre policiais civis e militares na porta do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, foi um festival de parcialidade. Os telejornais, sobretudo os da Globo e, no dia seguinte, a quase unanimidade dos grandes jornais, compraram, sem direito a contraditório, a versão difundida pelo governador José Serra que, numa abjeta tentativa de fazer uso eleitoral do episódio, tentou jogar nas costas das centrais sindicais, do PT e do PDT a culpa pelo conflito. Para o noticiário em geral, pouco importava se Serra não negocia com funcionários públicos em greve. Pouco importa se a polícia paulista recebe um dos piores salários do Brasil (salário PSDB: Pior Salário Do Brasil). A mídia nem se deu ao trabalho de investigar se a grave acusação feita por Serra tinha fundamento: a acusação simplesmente ganhou espaço nobre no noticiário.


 


Aliás, governos tucanos são campeões de problemas na área de segurança, e já enfrentaram protestos no Rio Grande do Sul, Alagoas e Minas Gerais que, juntamente com São Paulo, são estados comandandados por governadores do PSDB. Mera coincidência ou estilo tucano de governar? Esta é uma pergunta que a imprensa manipuladora não faz.


 


A cereja no bolo desta cobertura mistificadora veio na sexta-feira, com o trágico desfecho do seqüestro da menina Eloá, ocorrido em Santo André, no ABC paulista. Desde o início, a mídia – co-responsável pelo desfecho trágico do caso – manteve Serra a uma distância protetora, ignorando que o governador é, em última instância, o chefe da polícia estadual.


 


Não se trata de defender a politização da tragédia. Mas é preciso apontar a hipocrisia e o uso de dois pesos e duas medidas pela mídia. Fosse o governador um petista, os editores da grande imprensa não titubeariam em apontar o dedo acusador contra ele, como responsável pelos eventuais erros cometidos pela polícia que comanda. Como fizeram, por exemplo, no trágico acidente com o avião da TAM, em São Paulo, no ano passado: minutos depois do desastre, comentaristas e apresentadores de telejornais acusavam o presidente Lula de responsável pela tragédia.


 


Nos três acontecimentos recentes, o objetivo da trama midiática foi o mesmo: blindar a imagem do governador tucano José Serra e de seu pupilo Gilberto Kassab para não contaminar com más notícias o projeto eleitoral que a elite, sobretudo a paulista, acalenta para 2010 e para o qual a eleição de 2008 é uma etapa estratégica.


 


Se, faltando dois anos para as eleições presidenciais, nas quais não se sabe ainda quem serão os candidatos, a mídia já age desta forma tão despudorada, é de se imaginar o grau de torpeza a que chegará quando o cenário da disputa presidencial estiver mais definido. As forças progressistas e sua rede de comunicadores devem se preparar para esse grande enfrentamento.