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Publicado 08/02/2007 15:37 | Editado 13/12/2019 03:30
Molusco frágil,
carente,
o que seria de mim
sem ti,
oh! casulo meu?!
Julgas que te protejo.
Quando adormeces,
fazes de mim um lençol.
Do meu tórax,
um travesseiro.
Julgas-te
frágil canoa
atracada a um forte cais!
– De início, que diabo
seria feito dos portos
sem as embarcações?
Que sentido teriam
os aeroportos
sem os aviões?
Vês aquela minúscula
mancha na imensidão azul?
Sinto –me assim:
uma andorinha em ti.
Lembras-te daquele pequenino
peixe saltitando
desesperado
na areia da praia?
Olha o céu…
Vês aquela estrela
tão franzina
tão…
sem importância,
que só com
caridade se vê?
Ao me perceberes
deste-me brilho,
atributos.
Deste-me consciência.
Contigo no censo da existência
passei a compor
a constelação da vida.
Confesso-me:
um ente espantado,
espantalho errante,
um vaga-sem-lume
na escuridão.
Só o amor imenso da família
poupou-me do manicômio.
Por gostar
de rajadas de vento frio
e chorar solitário
nos morros
e feito mar,
inchar e murchar
segundo o luar,
julgo-me
descendente
do lobo.
Que seria feito
deste confuso ente,
sem o ungüento
do teu sexo?
Sem a carícia
de tua pele?
Sem a proteção da loba
na qual te transformas
quando me atacam,
ou quando minha
própria fragilidade
me conduz
ao ridículo,
ao escárnio?
Teria perecido,
sem dúvida.
Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro