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Adalberto Monteiro: De magos, sonhos e barricadas

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Não sei o que seria
Do mundo sem os magos,
Sem os contos de fadas.


 


Sem o antídoto da magia
Estaríamos à mercê de bruxas malvadas.
Já sem as fadas
Em vez do dom de voar,
Estaríamos para sempre condenados
– os pés, iguais aos répteis,
Sempre rentes ao chão.


 


Não sei o que seria dos homens
Sem os sonhos
E as barricadas que eles erguem
Para realizá-los.
Não sei que serventia teria a vida
Sem as utopias,
E os inventos, os instrumentos, os intentos,
Que se criam para alcançá-las.


 


Beijos ardentes,
Desencontros desconcertantes.
A vida se assemelha às vezes
A uma magia que não deu certo,
A uma barricada
Reduzida a uma ossada
Ou a escombros de sonhos.


 


Mas ao final das contas
E dos contos
Sempre o bem vence o mal.
Surge uma mulher
De lábios carnudos, iguais aos teus,
De uns olhos, do tamanho e da cor dos teus
De uma beleza e inteligência também iguais.


 


É noite de lua grande
Num campo gramado
Uma mesa forrada, toalha de branco linho,
Soa um violino.
E tua boca exala um buquê
De um vinho tão raro
Tão nobre,
Que nenhum magnata
Consegue arrematá-lo.


 


Adalberto Monteiro
As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Editora Anita Garibaldi – 1ª edição 2006