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Adalberto Monteiro: O amor e suas estações

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Numa estação de metrô
Os vi se despedindo.
Cada lágrima, assim, do tamanho de uma uva.
Choravam tanto que os trilhos
Ficaram untados de sal.
A dor era tal que me deu vontade
De fazer um atentado,
Contra o trem, contra o destino,
Contra aquele estado.
Era um ato criminoso separá-los.


 


Mas, tempos depois, noutra estação,
Choraram as doces lágrimas do reencontro.


 


Então, foram a muitas festas.
E, patriotas,
Antes de dar uma volta ao mundo,
Foram à Amazônia, ao cerrado, ao litoral
E também ao Pantanal.
Construíram uma casa de verde jardim.
E para que nela houvesse mais vida,
Primeiro nasceu Camila, em seguida, Ludmila.
E depois, o caçula, Aladim.


 


Mas no parque da vida
Girou e girou o carrossel.
E os reencontrei dessa vez
Numa estação outra da vida.
Estavam, aparentemente, graves,
Mas serenos.
Solícitos, respeitosamente,
Civilizadamente, para sempre, despediram-se,
Um foi para depois do norte,
O outro para além do sul.


 


Quando as máquinas zarparam,
Levitando sobre as linhas de ferro,
Caiu água salobra
Daquele céu que há dentro da gente.


 


As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006