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Adalberto Monteiro: O jornaleiro

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No fulgor da manhã,
Com a voz já rouquenha,
Ele alardeia a mercadoria:
Um terremoto que ceifou milhares,
Um novo escândalo de corrupção,
A velha onda de fome na África.
Mas o que escandaliza
É ele mesmo. Ele é a notícia.
Um ancião arriscando
O resto de vida entre os automóveis.
Não bastou ter agora 69 anos.
Não bastou trabalhar desde os sete.
Ele é a manchete.


 


Adalberto Monteiro
As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Editora Anita Garibaldi – 1ª edição 2005