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Brasigóis Felício: A feira do povo

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No sertão nordestinado


 


a feira do povo
é a economia de centavos.


 


São ovos ambicionados
até os seus avos sextavados.


 


Um real é dinheiro
digno de consideração e apreço.


 


Galinha do pé seco
sai que só vendo.


 


Mais velhas do que elas
só a eterna necessidade


 


Dos que nasceram
na barriga da miséria


 


Manga e mamacadela
fazem lama


 


Quem vendeu umbu à beça
agradece com um sorriso alegroso


 


Pitomba e melancia
estão em promoção


 


No chão azinabrado pelo sangue
dos animais carneados


 


À vista do freguês, para ele ver
o quanto é duro morrer.


 


Cabeça de bode, porcos e vacas
nos fitam, com olhar esbugalhado


 


Na feira do povo muita vida há que morrer
para sustentar os que só vivem para comer.


 


Os fregueses vêem de longe,
De esturricadas ravinas


 


Da vida ávida por tornar-se
em tudo harmoniosa e abundante


 


Enfim existindo para além
dos limites do estômago.