Carnaval da cidade litorânea, que já foi o segundo maior do país até os anos 1990, precisou se reerguer após governo de direita abandonar a tradição popular
Publicado 24/06/2025 14:06
A atual campeã dos desfiles das escolas de samba de Santos, a X-9, iniciou no último sábado, 20 de junho, o concurso para escolha do samba-enredo para o próximo Carnaval. Em outras agremiações, e de parte da Liga Independente, os preparativos para 2026 também já começaram: definição de enredos, sorteio da ordem dos desfiles, renovações de contratos, ingresso de novos profissionais e agenda de eventos estão entre as providências em curso.
O Carnaval 2026 tem tudo para ser marcante. Serão, em fevereiro, 20 anos da retomada dos desfiles santistas. Pela falta de apoio do poder público, à época comandado por um grupo de direita avesso ao povo, Santos ficou sem desfiles por seis Carnavais, sendo consecutivos: 1999, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005. A cidade, que até meados dos anos 1990 exibia o segundo mais importante desfile do país, só resistiu e se reergueu em 2006 porque tinha (e tem) uma cultura de escolas de samba bastante enraizada e sólida.
Outra efeméride deve dar aos próximos desfiles contornos ainda mais emblemáticos. Além das duas décadas da retomada do Carnaval, em 2026 Santos celebra 480 anos de fundação. O que, aliás, será enredo de uma das agremiações, a Real Mocidade Santista. E, pela sinopse divulgada, o enredo está longe de ser uma reprodução da história oficial.
Com o título “Santos, 480 anos – Mundaréu do povo, cultura e revolução”, o foco estará na arte e nas manifestações populares. A sinopse faz menção ao dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999), “[o qual fala] desse povão, que apesar de tudo é generoso, apaixonado, alegre, esperançoso e crente numa existência melhor na paz de Oxalá.”
Como ocorre desde 2016, os desfiles em Santos se dão uma semana antes do Carnaval. O objetivo é não coincidir com os dois maiores do país, de São Paulo e do Rio de Janeiro, e assim possibilitar o intercâmbio de artistas e profissionais. Desse modo, em 2026 as apresentações serão em 6 e 7 de fevereiro (sexta e sábado). São oito agremiações do grupo especial e sete do grupo de acesso.
Mas, nos 20 anos da retomada dos desfiles das escolas de samba de Santos, há pelo menos duas grandes aflições entre as comunidades.
Uma delas é a falta de uma espécie de Fábrica do Samba ou Cidade do Samba, como há, respectivamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A inexistência dessa infraestrutura para a produção dos desfiles limita o potencial artístico, técnico e profissional.
Outra preocupação está no local do desfile. A área no entorno da Passarela do Samba Dráuzio da Cruz, na Zona Noroeste, tem sido objeto, nestes 20 anos, de ocupação pelo mercado imobiliário e também de equipamentos públicos (como conjuntos habitacionais populares, escola e até hospital).
Teme-se conflito entre esses usos, que inviabilize a continuidade do sambódromo ali. Ir para onde? O poder público municipal não tem dado sinais de que tem planos efetivos.
Em tempo I: este colunista é autor do livro-reportagem “Duas noites: o (re)encontro de Santos com o samba de Carnaval”, que traz a cobertura dos desfiles de 2006, o ano da retomada. Pode ser obtido aqui.
Em tempo II: confira os enredos das escolas do grupo especial de Santos, para 2026.
X-9: “Eu vim aqui pra te mostrar que o mar está em todo lugar!”
União Imperial: “A consagração em orixá: Renascer em ‘união’ é a chave da vida!”
Unidos dos Morros: “O bicho nosso de cada dia – um jeitinho brasileiro de sonhar”
Mocidade Amazonense: “Enawenê Amazonawê – O feitiço da Amazonense tem poder!”
Real Mocidade Santista: “Santos 480 anos – ‘Mundaréu’ do povo, cultura em revolução”
Padre Paulo: “Guerreiro Menino e a jornada ao eldorado social”
Vila Mathias: “Vila Mathias coroa o Rei Batuqueiro”
Independência do Casqueiro: não divulgado até 23 de junho de 2025.
(Fonte: Canal Santos Carnaval)
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