João Cândido, o Almirante Negro, e a bela homenagem da Paraíso do Tuiuti

Enredo da escola apresentou no sambódromo a trajetória do líder da Revolta da Chibata

Alegoria da Paraíso do Tuiuti chegando à Praça da Apoteose. Foto: Antonio Scorza / Divulgação Riotur

Um dos grandes destaques dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, embora menos comentado que outros, foi a apresentação da Paraíso do Tuiuti. A agremiação do bairro operário de São Cristóvão prestou uma bela homenagem a João Cândido, o Almirante Negro, dando na Passarela do Samba Darcy Ribeiro, o sambódromo da Rua Marquês de Sapucaí, uma aula de história do Brasil.

Com o enredo “Glória ao Almirante Negro”, de autoria do carnavalesco Jack Vasconcelos, a Paraíso do Tuiuti impressionou pelo cuidado com que relatou na avenida a trajetória do marinheiro que liderou a Revolta da Chibata, em 1910. O movimento pôs fim aos maus tratos e castigos físicos aos quais eram sujeitados os marinheiros.

Mesmo com menor poder financeiro que outras agremiações, a Paraíso Tuiuti primou pelo capricho nas fantasias e alegorias, que ilustravam passagens da vida de João Cândido. Não faltou, evidentemente, referência à revolta que liderou, mas o desfile não se ateve apenas a esse fato histórico importante.

Sua relação com as águas, com os pescadores, com Iemanjá foi lúdica e artisticamente bem abordada. A reverência que João Cândido recebeu dos compositores João Bosco e Aldir Blanc, na música “O mestre-sala dos mares”, eternizada na voz de Elis Regina, também se fez presente. Por sinal, João Bosco desfilou, assim como o único filho de João Cândido, Adalberto Cândido.

O samba-enredo, muito bem interpretado por Pixulé, e bem tratado pela bateria comandada por Mestre Marcão, conduziu bem a evolução da escola. Como sempre, a comunidade da Paraíso do Tuiuti garantiu o chão da escola, uma das marcas da agremiação, cantando e desfilando com engajamento e garra.

Em um Carnaval, como de praxe, muito equilibrado tecnicamente, a Paraíso do Tuiuti, ao final da apuração, terminou na nona posição, com 268,3 pontos. Mas ficou apenas cinco décimos atrás da sexta colocada (Vila Isabel) – as seis primeiras retornam no Sábado das Campeãs. Para se ter uma ideia, uma diferença menor que a de sete décimos entre a campeã (Viradouro) e a vice (Imperatriz).

João Cândido Felisberto era o nome completo do Almirante Negro. Nasceu em Encruzilhada do Sul (RS), em 1880, filho de escravizados, e morreu em 1969, em São João do Meriti (RJ). Este artigo disponível no site da Fundação Palmares, de autoria de Luiz Gustavo dos Santos Chrispino, resume a biografia de João Cândido: https://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2020/06/ARTIGO-Jo%C3%A3o-C%C3%A2ndido-o-Almirante-Negro-um-Her%C3%B3i-Nacional.pdf.

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