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Publicado 30/03/2007 17:35 | Editado 13/12/2019 03:30
Quando o sol ferir
com punhais de fogo
e forja
a exata hora dos ferreiros,
varrei o pó da oficina
e a mansidão dos terreiros,
libertai a alma dos bronzes
e dos meninos
desatada em som
e nessa aguda solidão
que em ondas se apazigua
– ponta de espinho antigo –
na carne
do coração.
Convocai enxadas,
foices, forcados, facões,
grades, cutelos, machados,
a pesada procissão dos ferros
afeitos ao rigor da terra
e da procura
e, por fim, as mãos,
resignadas,
multiplicadas no cereal maduro.
Mãos talhadas em silêncio
e ternura,
que plantam a cada dia
sementes de liberdade
e colhem ao fim da tarde
celeiros de escravidão.
Esgotou-se o tempo de semear
e inventou-se a hora do martelo.
Retorcei na bigorna outros anelos
e a força incandescente
deste mar de ferros levantados.
Esgotou-se o tempo de consentir
e pôs-se a andar
a multidão dos saqueados
contra os cercados do medo.
Homens de terra e relâmpago!
Convertei em fuzis vossos arados,
armai com farpas e pontas
a paz de vossas espigas!
(Do livro Dies Irae)