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Publicado 20/08/2008 15:44 | Editado 13/12/2019 03:29
Aqueles com fama de honrados na vila
roubaram-me a veste com que me cobria,
jogaram-me estrume nas galas de um dia,
a roupa que usava rasgaram-me em tiras.
Nem pedra deixaram aonde eu vivia
sem lar, sem abrigo, nas terras baldias,
no chão como as lebres dormi nas campinas,
meus filhos, meus anjos que tanto eu queria,
morreram, morreram da fome que tinham!
Fiquei desonrada, murcharam-me a vida,
fizeram-me um leito de silvas e espinhos
e no entanto os raposos de raça maldita
tranqüilos num leito de rosas dormiam.
“Salvai-me, ó juizes!” – gritei… e eles riram,
Zombaram de mim, e vendeu-me a justiça,
“Bom Deus, ajudai-me” – gritei afligida,
tão alto que estava, bom Deus não me ouvira.
Então como loba doente ou ferida,
de um salto com raiva tomei a foicinha,
rondei de mansinho… nem folha me ouvia!
E a lua escondia-se, e a fera dormia
com seus companheiros em colcha macia.
Olhei-os com calma, e as mãos estendidas
de um golpe, de um só, eu deixei-os sem vida.
E ao lado, contente, sentei-me das vítimas,
tranqüila esperando pela alva do dia.
E então… e então se cumpriu a justiça,
eu neles; e as leis, nesta mão que os ferira.*
Poesia
Rosalía de Castro
Seleção e versão do galego e do espanhol: Ecléa Bosi
Editora Brasiliense – 2 edição, 1987