Ruy, por Joana Rozowykwiat

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Ruy (à esquerda) comemorando seu aniversário ao lado de integrantes da equipe do Portal Vermelho. (Da esquerda pra direita: Joana, Marianíssima Serafini, Inácio Carvalho e Railídia Carvalho).

No fim do ano, o Ruy me ligou. “Joaníssima!”, dizia animado. Contou que estava escrevendo um texto sobre Clarice Lispector, e bateu nele a saudade de outra escritora pernambucana, de quem ele também gostava muito. Até demorei a entender que falava era de mim mesma.

O superlativo ele agregava não só ao nome, mas à sua forma de ver o outro. Sempre com muita generosidade e entusiasmo. Era um otimista, gostava de esperançar. Tão sabido e, ainda assim, afeito às partilhas – nem sempre características que andam juntas.

O Ruy era uma delicadeza, um dente de leão voando por aí. Espalhando livros no mundo. Que ele emprestava e a gente nunca devolvia.

Escrevendo, escrevendo, escrevendo. Apesar de tudo. Apesar do jornalismo minguante em nosso tempo. Das notícias cada dias mais aterradoras. Dos olhos que já não conseguiam direito lhe mostrar o mundo. Mesmo assim ele via. Com simplicidade e interesse genuíno pelo outro.

Aos 70 anos, permanecia encantado pela juventude e sua potência transformadora. O mesmo homem que poderia falar de forma despojada sobre a história do comunismo, também me convidava a escrever junto com ele um curto e inusitado texto sobre Bob Dylan. Podia conversar por horas sobre tudo e qualquer coisa.

Ele sempre dizia que me achava inteligente. E, quando falava Joaníssima – ou Marianíssima – , era pra que a gente pensasse mesmo que era mais. Esse exagero de gentileza que era o Ruy

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