Thiago de Mello, 95 anos: uma entrevista a Adalberto Monteiro

Em 16 de março de 2016, pouco antes de se tornar nonagenário, Thiago falou ao jornalista e também poeta Adalberto Monteiro

O poeta amazonense Thiago de Mello completa 95 anos nesta terça-feira (30). Para celebrar a data, o Prosa, Poesia e Arte, seção cultural do Portal Vermelho, publica, a cada dia, poemas de sua autoria, entrevistas com o autor ou ensaios sobre sua obra.

Em 16 de março de 2016, pouco antes de se tornar nonagenário, Thiago concedeu uma entrevista reveladora ao jornalista e também poeta Adalberto Monteiro, dirigente nacional do PCdoB.

Adalberto lhe questionou sobre o “sentido de urgência” que o autor dos Estatutos do Homem se impôs. A idade avançada não levou o poeta a diminuir o ritmo. “Sei que tenho coisas ainda a fazer”, afirmou Thiago, lembrando um momento em que, sob a ditadura chilena, na década de 1970, pareceu diante da morte num paredão. Ao prever – com razão – que escaparia do fim naquele momento, o poeta tomou para si a missão de não parar nunca.

Quando Adalberto sugere que Thiago, em certo momento de sua trajetória, fez “filosofia em verso”, o poeta explica o porquê da mudança de rota: “As urgências da consciência que tenho do mundo que estou vivendo com os outros me afastam um pouco dessa própria indagação filosófica”.

A obra de Thiago de Mello já foi vertida para mais de 30 idiomas – mas o próprio poeta também se dedicou ao sempre conturbado ofício da tradução literária. Quais seriam os limites da intervenção de um tradutor sobre o texto de um outro autor? A Adalberto Monteiro, Thiago teoriza: “A arte de traduzir – a arte da tradução – é um processo de recriação de uma beleza que está ali em estado puro, original. E você tem que transformar isso, essa beleza, em outra linguagem, outro idioma, outra música – e com uma expressão de comunicação de outra cultura”.

As metáforas, sobretudo as metafísicas, não requerem uma versão literal em outra língua. Diante do desafio de traduzi-las, Thiago sugere que, antes de tudo, se “corresponda à realidade do leitor comum”.  Afinal, “você não vai recriar só para vocês que leem poesia, não”. Ele cita o exemplo de Pablo Neruda (1904–1973). Para escrever os versos de Alturas de Machu Picchu – sobre a resistência da civilização inca –, o poeta chileno chegou a morar no Peru por três meses. 

E há a Amazônia e sua mitologia – ou “o poder da natureza”, conforme descreve o “poeta da floresta”. Três anos antes de a região ser alvo de um criminoso ataque predatório avalizado pelo governo Jair Bolsonaro, Thiago de Mello já denunciava: “A floresta é o maior manancial de vida do teu planeta, é o lugar mais mágico que existe, o mais poderosamente mágico. E, no caso do Brasil, o mais maltratado, esquecido e degradado”;

Se a solidariedade ganha força como valor social nestes tempos de pandemia, reclusão e incógnita, a arte pode ser uma aliada. Disso Thiago de Mello já tratava na entrevista de 2016: “A arte tem que estra presente como uma parte importante na construção de uma sociedade humana solidária”. Na opinião do poeta, o mundo atual sente cada vez mais falta da “delicadeza de fazer você levar e dar aquilo que você está sentindo para outra pessoa”.

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