Ciência pra quê?

Por diversos caminhos, governo golpista empoleirado no poder tem colocado freios nos recursos destinados às ciências no Brasil, alegando necessidade de corte nos gastos públicos. Comprova, assim, que o desenvolvimento científico é inimigo do obscurantismo.

Mas a reação veio com força, a começar pelo congresso anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belo Horizonte, semana passada. O documento final do evento pede a revogação da Emenda Constitucional 95, aprovada no ano passado, que fixa um teto aos gastos públicos nos próximos 20 anos, batizada à época de “PEC do Fim do Mundo”.

A medida atinge o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) e órgãos que financiam pesquisas científicas no país. Aí se incluem as universidades federais e outras entidades públicas como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que incluem bolsas de estudos no exterior.

Novas medidas

Nos dias seguintes ao congresso da SBPC, centenas de pesquisadores foram a Brasília, onde forçaram o ingresso às dependências do Congresso Nacional, em manifestação contra os cortes nos gastos. Somente em 2017, de janeiro a julho, esses recursos a menos na área atingem cerca de R$ 2,5 bilhões, segundo cálculos de membros da entidade.

Os efeitos dos cortes atingem todas as áreas, da saúde e educação ao Programa Espacial Brasileiro (PEB), em especial o projeto do veículo lançador de satélites, que são apontados como gastos. A biomédica Helena Nader, que acaba de deixar o cargo de presidente da SBPC, disse que “é preciso entender que educação e ciência não são despesa, são investimentos, e são o único caminho para colocar o Brasil no rumo certo de novo.”

O novo presidente da entidade, o físico Ildeu de Castro Moreira disse, por seu lado, que os cortes de gastos no setor científico estão conectados à realidade do país. Por isso, segundo ele, “é preciso muita discussão sobre os caminhos que o Brasil vai tomar na economia e na política”.

Embrapa

Mas há, ainda, setores que ficam fora dessa conta. É o caso, por exemplo, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que sofreu cortes de perto de R$ 250 milhões de um orçamento de R$ 750 milhões. Além disso, a empresa pretende demitir neste ano mais de mil dos seus 9,7 mil funcionários, por meio do Programa de Demissões Voluntárias (PDV). E cada pesquisador ou técnico que sai, é conhecimento que vai embora.

O PDV é uma réplica de programa semelhante implantado no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997. Sua reedição oficial foi anunciada esta semana pela equipe que ocupa o Palácio do Planalto. Na prática, porém, ele vem ocorrendo desde janeiro em várias repartições do Governo Federal, que é o caso da Embrapa.

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