Trabalhadores debatem medidas para barrar a desindustrialização

“Hoje trabalhadores e empresários industriais estão excluídos no Brasil”, afirmou o ex-ministro e professor da Fundação Getúlio Vargas, Bresser-Pereira, durante o debate “Indústria e Desenvolvimento” nesta terça-feira (15), em São Paulo. Clemente Ganz, do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e Marilane Teixeira, pesquisadora da Unicamp, também foram palestrantes do evento organizado pela Fitmetal e pela CTB.

Por Railídia Carvalho

debate "industria e desenvolvimento" fitmetal

Dados do Dieese apontam que 2017 pode ser o 4º ano consecutivo de queda no emprego metalúrgico, fato inédito entre a categoria. A queda na produção industrial extinguiu 326 mil empregos no ano passado. A indústria automobilística voltou a patamares de produção registrados em 2005.

As consequências no emprego metalúrgico são parte do processo de desindustrialização que se agravou no país no último ano. Tradicionalmente um setor protagonista no Brasil, o segmento vem perdendo espaço, sobretudo na geração de empregos, para outros segmentos como comércio e serviços. É o que se define por desindustrialização.

“Taxa de juros alta dificulta o investimento, o emprego depende do investimento. Isso causa uma desvantagem competitiva para as indústrias nacionais”, explicou o ex-ministro Bresser Pereira.

Ele apresentou pontos para a área econômica propostos no manifesto Brasil Nação e recomendou a adoção de uma taxa de juros baixa e uma taxa de câmbio competitiva, ou seja, o oposto do cenário brasileiro.

Bresser elogiou o encontro com sindicalistas que considerou histórico. Para ele os trabalhadores ali presentes compartilham da visão nacionalista desenvolvimentista, defendida por ele, e precisam cada vez mais se apropriar da macroeconomia.

“É um tema mais simples do que possa parecer. É preciso que não tenhamos medo de ter nossa opinião sobre a macroeconomia que virou um problema político fundamental. Não podemos deixar que só os técnicos dominem o tema e nós ficamos dependendo deles. O trabalhador tem que se apropriar”, declarou o ex-ministro.

Golpe na indústria

O metalúrgico e presidente da Fitmetal, Marcelino da Rocha, afirmou que é preciso massificar junto a trabalhadores e empresariado que o governo Temer está diretamente ligado ao pior momento da indústria nacional.

“Câmbio, juros altos, ausência de distribuição de renda e pouco investimento do Estado no investimento produtivo. É a política do golpe que não respeita o desenvolvimento da nação e do povo brasileiro. Precisamos encontrar uma forma de a médio e longo prazo chegar a um pacto que possa salvar o Brasil”, avaliou o dirigente.

De acordo com ele, a classe trabalhadora precisa participar do debate da retomada do crescimento econômico com atenção para um projeto de reindustrialização. “Outros países que investiram na indústria geraram emprego, distribuição de renda e estimularam o desenvolvimento”.

Marcelino afirmou que o Brasil vem na contramão dos tigres asiáticos, países que experimentaram um acelerado desenvolvimento econômico a partir da década de 70.

“Eles saem de uma participação na indústria na década de 70, de algo em torno de 10% para que alguns países, como Cingapura, atinjam hoje mais de 30% de participação no Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil é o contrário, passamos de quase 30% para menos de 10% de participação da indústria no PIB”, comparou o metalúrgico.

Acordos sociais: trabalhadores, Estado e empresários

Para a pesquisadora da Unicamp, o processo de reindustrialização é um grande desafio e não possui fórmula. Na opinião dela é central recuperar o papel do Estado, que está hoje “depredado”.

“Vai precisar de muita ruptura. Tem que reverter essas propostas realizadas no último período. Sem isso, é difícil discutir política industrial”, ressaltou Marilane.

Na opinião dela, é preciso disputar o Estado. “Um dos equívocos do período anterior foi acreditar na conciliação de interesses tão diversos na disputa do Estado”.

Clemente Ganz reforçou a necessidade de recuperação da capacidade do estado de conduzir uma política econômica que estimule a indústria. “Hoje a indústria é desestimulada. É um governo que diverge da nossa proposta”, observou.

Segundo Clemente, a retomada da economia orientada pela reindustrialização deve buscar um compromisso entre trabalhadores e empresários. “Apesar do pragmatismo empresarial, uma parte desse empresariado que apoiou o golpe vê que o cenário está muito pior hoje do que com Dilma”. Ele acredita que é possível dialogar e “formar” empresários.

“No início do governo Lula tínhamos dois mil trabalhadores no setor naval. Os estaleiros estavam desmontados. Terminamos os governos Lula e Dilma com quase 80 mil trabalhadores nesse setor. Várias empresas que não existiram passaram a existir, empresários que não existiam passaram a existir. Formamos empresários. Daqui para a frente podemos formar também”, opinou.

Clemente afirmou que é fundamental ter acordos sociais amplos definindo como serão partilhados resultados, como vai se enfrentar uma crise, em que políticas serão feitos os investimentos.

“O Programa de Proteção ao Emprego (PPE) foi um pequenino acordo. Os trabalhadores que aderiram reduzindo o salário e mantendo o emprego pagaram menos a conta do que os que foram demitidos”.

Aprender a negociar é a estratégia, segundo Clemente. “Hoje não tem o empresário que havia há 40, 50 anos. As empresas são geridas por fundos de pensão e vamos ter que aprender a negociar. Não tem resultado pré-definido. E vamos ter que fazer isso para ir juntando as forças que topem fazer essa conversa”.