Analistas apontam redes sociais para explicar efeito Bolsonaro

Reportagem da BBC Brasil mostra que é consenso entre os analistas entrevistados que o crescimento de Jair Bolsonaro se explica principalmente por sua presença na internet e, especialmente, pela sua aceitação entre jovens. Mais de 60% de seu potencial eleitorado vem dessa faixa etária e, além disso, segundado dados do Ibope, 90% das pessoas que pretendem votar no parlamentar para presidente da República têm acesso diário às redes sociais – a média nacional é inferior a 70%.

Jair Bolsonaro - Reprodução

Essa camada que virou público-alvo de Bolsonaro se manifesta, em parte, contra a política e contra a retirada de direitos desde 2013, sem que os governos do PT tenham conseguido fazer uma interpretação adequada desses movimentos e seus rumos.

O partido não apresenta nenhuma alternativa a não ser Lula, e tampouco tem conseguido criar elos sólidos e capitalizar movimentos como o feminista, o de negros, o de combate à discriminação contra homossexuais, etc. O resultado é uma camada de jovens fragmentada, que pode ser seduzida por uma direita extrema que está antenada com as tecnologias.

A repotagem mostrou que, do ponto de vista de potenciais eleitores, Bolsonaro chama atenção por ser autêntico e não demonstrar raízes com facetas corruptas e obsoletas da política tradicional. Ele ainda consegue fazer com que o seu público relativize as manifestações polêmicas. Ou seja: já negros e mulheres votando em Bolsonaro apesar do discurso fortemente racista e machista.

O professor Moysés Pinto Neto disse à reportagem que a esquerda não conseguiu se aproveitar do descontentamento mostrado nos protestos para engrossar suas fileiras. "O que aconteceu foi o inverso. A direita, que sempre foi o establishment, começou a se mostrar como crítica ao sistema, como se estivesse fora dele e fosse a solução para os problemas. Nos Estados Unidos, isso levou à eleição de Donald Trump", explicou.

Moysés Pinto Neto avaliou que a direita foi "visionária" e "competente" ao usar o Facebook, YouTube e Twitter.

Diretores dos institutos Datafolha e Ipsos fizeram ressalvas. Eles afirmaram que, em 2018, Bolsonaro deve perder força porque, na campanha, ele terá menos tempo de propaganda na TV e no rádio do que seus adversários. Outros analistas apontaram que há espaço para um candidato mais ao centro em função disso.

Apesar de toda a contextualização, o cientista político Hilton Cesario Fernandes, da Fespsp, argumentou que "o apoio da juventude não será suficiente para a vitória da extrema-direita", segundo a BBC. "O discurso radical pega uma parcela da população específica, mas dificilmente convence a maior parte da população numa disputa majoritária, disse.