Dom Aldo Pagotto: As águas vão rolar

O povo nordestino deve se interessar pela viabilidade técnica, sustentação administrativa e financeira do projeto da revitalização e integração das Bacias do rio São Francisco.

 O projeto foi amplamente discutido e planejado por técnicos, absorvendo oportunas reações e sugestões de Órgãos governamentais e vários segmentos da sociedade. O processo de elaboração técnica seguiu-se às audiências públicas, realizadas nos Estados envolvidos e beneficiados. Lamentavelmente algumas audiências não aconteceram, tumultuadas pelos protestos dos grupos de pressão contrariados.


 



A revitalização e a integração das Bacias do Rio São Francisco é obra estrutural, não uma política de compensação. Favorecerá 12 milhões de nordestinos. O rio São Francisco é patrimônio nacional. A água postulada pelos Estados do CE, RN, PB, PE corre da reserva de Sobradinho para o mar, após ter servido seu curso. Da vazão de 1.260 m³/s postulamos apenas 26 m³/s, um ‘fio de espaguete tirado de um farto maço’. A água interligará nossos açudes, resolvendo a escassez de nossos recursos hídricos, insuficientes e sem qualidade para consumo humano, animal e para irrigações de plantios de redes produtivas de pequenos agricultores. O tempo no qual os 4 Estados mais precisam de água, coincide com o período de cheias no São Francisco, como acontece no presente ano.



 


Os que negam a viabilidade do projeto radicalizam três posições. Primeiro, dizem, o rio está morrendo, destruído ao longo do seu curso, pela incúria de indústrias e pelo assoreamento das margens ciliares. Com razão, é preciso revitalizar o rio. Segundo, serão alijados pescadores, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, atingidos por barragens, pequenos agricultores. Não vão sobreviver porque a água será privatizada e seu uso regulamentado por empresas, interessadas em auferir lucros. Terceiro, o projeto é oneroso: R$ 4,5 bilhões. Ademais, os Estados pleiteantes acumulam água em seus açudes e não a distribuem. Com menos dinheiro, se constrói cisternas e adutoras.


 



Na verdade, os grupos contrariados, espalhados pelos Estados de Minas Gerais e Bahia e Sergipe, não querem que nós cresçamos. Em nome da revitalização do rio, MG, BA, parte de PE e SE querem mais grana para seus projetos. Omitem dizer que há tempo funciona o agro-negócio de grandes grupos que exploram as águas e poluem os rios. Como na fábula do lobo e do cordeiro, nos culpam pelo ‘roubo’ da água que por eles já foi usada. Ora, o projeto estrutural enfrenta a inclemência causticante de estiagens prolongadas, condição natural do semi-árido. Precisamos de água para interligar nossos açudes, que, sem retro alimentação, evaporam. De onde tiraríamos água? O solo semi-árido não retém a água das chuvas.


 


 


É indispensável a contra partida da população interessada, conhecendo o mérito do projeto. A mobilização, provocada por movimentos sociais vinculados às pastorais da Igreja dão a entender que até a CNBB é ‘contra’. Ora, não cabe à Igreja imiscuir-se nas soluções técnicas. Grupos de pressão ‘diabolizam’ a obra, mistificando-a em detrimento dos mais pobres.


 



Os Bispos dos Estados do CE, RN, PB e PE se pronunciam a favor da revitalização e da integração das bacias do rio São Francisco (exceto algum bispo, ainda com dúvidas). Na visita ao governador Cássio Cunha Lima (26.2 pp) os Bispos da Paraíba apresentaram a carta resultante do encontro de Campina Grande (Novembro de 2006) auspiciando o aviamento da obra de integração das Bacias do SF. Particularmente empenho-me e peço a interação dos parlamentares da PB e dos gestores públicos, a união de forças pelo início da obra, aprovada pelo presidente Lula, mas bloqueada pela ação intransigente de grupos que conseguem liminares de retenção ou embargo. Não percamos tempo, nos desgastando com polêmicas. A hora é de envolvimento efetivo na execução da obra, corajosamente endossada pelo Sistema Correio.


 


 


 


+Aldo di Cillo Pagotto, sss é arcebispo de Joâo Pessoa