Encontro discute situação dos índios cearenses

Abrir uma discussão ampla sobre a situação da população indígena do Ceará e avaliar a produção científica sobre o tema. Estes foram alguns dos objetivos propostos pelo seminário "Abril dos Índios 2006:

Abrir uma discussão ampla sobre a situação da população indígena do Ceará e avaliar a produção científica sobre o tema. Estes foram alguns dos objetivos propostos pelo seminário "Abril dos Índios 2006: I Encontro de Etnologia Indígena do Ceará", aberto ontem no auditório do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (Uece). O evento, que ocorrerá até quinta-feira, dia 20, vai discutir temas como educação, cultura, meio ambiente, saúde e políticas relacionadas à realidade dos índios cearenses. O projeto é coordenado pelo grupo Índios: Estudos e Pesquisas, da Uece.

O professor de antropologia Babi Fonteles, que abriu o seminário falando sobre a produção etnológica (estudo de povos e etnias) indígena no Ceará, explicou que o interesse nessa área teve início nos anos 80, com os movimentos de reivindicação de identidade étnica. "Aqui no Ceará se costumavam dizer até que não havia índios", relembra. A partir desses movimentos, os centros universitários começaram a se interessar por essa temática e discutir como a identidade cultural desses povos estava sendo construída. "Se, por um lado, tivemos um movimento que levava a crer em uma sociedade de massas, a própria sociedade criou mecanismos de segmentação. Principalmente no pós-guerra, há uma emergência de novos sujeitos sociais, entre eles os indígenas", comenta.

Apesar do pouco tempo, Fonteles acredita que o Estado possui bons estudos etnológicos em termos de quantidade – cerca de 50 estudos já foram produzidos sobre o tema no Ceará – e qualidade. Segundo Fonteles, essa articulação tardia no Ceará se deve principalmente ao processo de colonização e desconstrução da identidade indígena – iniciado no Nordeste brasileiro e executado de forma mais intensa aqui do que no restante do País. "Além disso temos os problemas do presente, como o êxodo rural, os conflitos de terra, o processo de urbanização do espaço", complementa.

Com relação à identidade cultural, o professor alerta que não se pode mais pensar a identidade em termos de essência, de características que não se modificariam com o tempo. "Os índios não são obrigados a se congelar sob pena de não serem reconhecidos como tais. E os nossos estudos têm partido da concepção de uma cultura como processo constante de reinvenção, de reelaboração. Não é possível ser ingênuo", frisa.

Fonte: jornal O POVO