Maranhão tem mais de um milhão de famintos

Na corrida contra a pobreza, o Maranhão está na última colocação. Dados divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 18% da população do estado sofre de inseguran&cce

Na corrida contra a pobreza, o Maranhão está na última colocação. Dados divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 18% da população do estado sofre de insegurança alimentar grave (IA), um contingente de cerca de 1,1 milhão de pessoas.
O dado faz parte do suplemento sobre segurança alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feito em 2004 com recursos do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS). Dos 52 milhões de domicílios particulares analisados naquele ano, em 6,3 % deles residem pessoas com insegurança alimentar grave. Ou seja, aquelas que não conseguiram fazer refeições com freqüência três meses antes da pesquisa.
São pessoas como Rosalene Silva, 24. Ela passou a responder pela família, formada por dois filhos pequenos — um de 2 anos e outro de 4 anos — pelo sogro e por um cunhado adolescente, desde que o marido foi preso por assalto.
Fazer as três refeições para ela é luxo e, em alguns dias, alimentar as crianças só é possível com a ajuda dos vizinhos. A renda familiar não passa dos R$ 150 por mês. “Uma moça me diz que quando não tivermos o que comer é para eu mandar as crianças lá”, conta enquanto servia a última refeição que tinha na dispensa — arroz, feijão e ovos.
Café da manhã do dia seguinte ainda é uma incógnita. O almoço talvez venha quando o sogro dela voltar da rua, onde trabalha fazendo pequenos bicos de pedreiro, e o jantar virá das sobras do almoço, que pode nem chegar.
Todos os parcos recursos conseguidos pela família de Joseane são gastos com comida. “Roupa só temos quando ganhamos de pessoas que vem aqui nos dar. A minha irmã que tem uma situação melhor de vez enquanto traz roupas para mim e para os meninos. Se não for assim, não temos o que comer”, contou.
O perfil da família dos famintos do estado é quase sempre o mesmo. Grupos familiares liderados por mulheres, com várias crianças e com os membros adultos apresentando baixa escolaridade. Joseane só cursou até a 8º série do ensino fundamental e o sogro é analfabeto.

FOME NO CAMPO
O contingente de famintos no Maranhão é superior a toda população de São Luís. O estudo inédito prova que a maioria das casas onde faltam comida com freqüência fica na área rural e é habitada por mulheres negras. Em todo o país, existem quase 14 milhões de famintos, o que faz o Maranhão responder por 7,92% deste total.
Além de mostrar a situação de quem não adquiriu qualidade nem quantidade nas refeições diárias, o estudo divide em três grupos a situação de insegurança alimentar: leve, moderada e grave. No Maranhão, as classificações somam 69,1 %, mais da metade da população de
todo o estado. No Brasil, se forem considerados os três quadros, são 72 milhões de brasileiros. Nesse caso, estão as pessoas que se preocupam com a falta de alimentos para si ou para algum membro da família.
Por ser o primeiro levantamento confiável sobre a segurança alimentar no país, o dado não trás comparativos de crescimento de outros anos. Para o secretário de avaliação e gestão da informação do MDS, a pesquisa ajudará a definir o quadro dos famintos no Brasil.
“O estudo dará indicadores básicos com informações fundamentais, com a distância entre os que comem de forma adequada e os que mal comem”, afirmou.
Santa Catarina é o estado onde menos pessoas passam fome. Apenas 3,7% da população está enquadrada no nível grave de insegurança alimentar. Em segundo lugar está São Paulo, com 3,4% de precariedade na alimentação. Rio de Janeiro, Paraná e Sergipe estão empatados em terceiro com 3,7% da população com insegurança alimentar grave. Os três últimos são Paraíba (15,2%), Roraima (15,8%) e Maranhão (18%).
O estudo constatou ainda que, em 2004, a população rural do Nordeste que passou fome era de 17,1% contra 13,2% da urbana. Entre as regiões do país, a Norte e Nordeste são as que mais sofrem com a IA grave. Perto de 15% dos domicílios que recebem algum benefício do governo, como o bolsa família, sofrem com insegurança alimentar grave.