Rússia fará alianças antiocidentais se Ucrânia entrar na Otan
Serguei Karaganov, presidente do conselho editorial da revista "Rússia na política global" considera que a entrada da Ucrânia no Pacto Militar do Atlântico Norte, patrocinado pelos Estados Unidos, poderia ser o início de uma sit
Publicado 06/06/2006 14:50
Em Washington e Kíev falam a sério do mais rápido ingresso, antes de 2008, da Ucrânia no Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan). São conhecidos já os planos de inserção do país eslavo na aliança sem nenhuma espécie de referendo que, ora daria túmulo à idéia de ampliação (sempre e quando seus resultados não sejam fraudados), ora provocariam uma divisão maior ainda da sociedade.
Os setores que pretendem empurrar a Ucrânia para a Otan são aqueles que não estão seguros de suas forças, da viabilidade do Estado ucraniano, que temem uma Rússia mais competitiva e que abrigam os desígnios de fundir a Ucrânia à máquina político-militar do ocidente.
Pode-se adivinhar alguns motivos do ocidente, mas não todos. Em primeiro lugar, é o desejo de atar com maior firmeza a Ucrânia instável e vacilante ao sistema ocidental. Seguramente, perto das eleições, alguns políticos americanos quiseram ganhar as simpatias dos eleitores procedentes da Europa Oriental.
Se deseja criar outra (além da Polônia) ponta de apoio político pró-americano na Europa. É preciso considerar que a Polônia funciona mal como ponta. Varsóvia acabou conquistando pouco porque está isolada políticamente da grande Europa. Ao mesmo tempo, os tradicionalistas polacos sonham em reaver o domínio sobre a Ucrânia que perderam há já alguns séculos.
Mas é preciso prestar atenção a um fator como a incompreensão das conseqüências que podem acarretar a entrada da Ucrânia na Otan. Entre Rússia e Ucrânia não existe fronteira delimitada. A fronteira existe só em papel e serve de fonte de renda para fiscais de alfândega corruptos. A criação de uma fronteira como todas as outras, segundo as leis internacionais, acarretaria em enormes problemas. Milhões de ucranianos que trabalham na Rússia estariam sujeitos a perder o emprego, milhões de famílias seriam separadas. Surgiriam dezenas, ou centenas de conflitos, síndrome de um povo dividido que até agora conseguiu-se evitar. Os acontecimentos poderiam gerar um cenário semelhante ao da Iugoslávia, talvez mais suave, talvez não.
A Rússia não é a Sérvia. A Rússia suportará, embora se enfraqueça e veja-se forçada a ingressar em alianças anti-ocidentias. Muitos em Moscou abandonariam o desejo de aplicar uma política moderada. Espero que se consiga evitar uma confrontação com o Ocidente, mas de todas as formas estaremos diante de uma situação que exigirá uma réplica dura e, possivelmente, desproporcionada em algumas ocasiões.