FHC ataca de porta-voz da baixaria em convenção do PSDB

A convenção nacional do PSDB confirmou a nomeação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como candidato oficial do partido à Presidência da República e o senador José Jorge (PFL-PE) como vice.

Por Osvaldo Bertolino

Ele chamou o presidente Luís Inácio Lula da Silva de "fanfarrão" e caprichou no blábláblá habitaul para defender o seu candidato. "Geraldo (Alckmin) não será frouxo, trabalhará. Não fará propaganda o dia inteiro", disse FHC. Para o ex-presidente, Lula passou a ser simplesmente "fanfarrão, porque fala, fala, fala e não diz nada". "Não diz nada que toque realmente a verdade", bradou. Ele disse também acreditar "em virada" nas pesquisas. No festival de delírios, FHC também disse que Alckmin vai dar ao povo “mãos limpas”. "Ele (Lula) errou quando escolheu o PSDB como adversário e os partidos do mensalão como sustentáculos do poder. Sujou as mãos", atacou FHC. "Hoje, nosso presidente é presidente porque estamos com os olhos semivendados", afirmou.

E tentou justificar o desastre que foi sua gestão dizendo que "ninguém começa do zero”. “Um país se faz com trabalho de gerações", afirmou. Segundo ele, um presidente que começa dizendo "eu fiz" está mentindo. "Não fez nada, herdou. Herdou não de mim, herdou do trabalho de todos nós, de gerações de brasileiros. Geraldo é o herdeiro dessa geração de brasileiros", afirmou para tentar dizer que há algo de positivo em sua herança maldita.

Sincero, disse que nunca teve "uma desilusão maior", referindo-se ao governo Lula. Além de acusar o presidente de ter incorrido em vários itens da “Lei de Responsabilidade Fiscal”, criação dos neoliberais para arrochar investimentos públicos e beneficiar a ciranda financeira, FHC disse que Lula deixou que levassem ao lado de seu gabinete "a maior teia de corrupção que eu já vi nesse país". Para o ex-presidente, os eleitores vão escolher entre duas pessoas, "uma que levantou esperanças e que tão rapidamente se esqueceu de tudo que se esperava dele e que pode até impressionar os mais incautos, mas perdeu a respeitabilidade".

Maior delírio

O maior delírio do ex-presidente aconteceu quando ele disse acreditar que quem vai votar no candidato tucano "é o povo humilde". "Nós sempre fomos apoiados pelos trabalhadores, por aqueles que necessitam de apoio. Fomos apoiados não porque pagávamos movimentos, não porque cedíamos às invasões e à baderna, porque não cederemos. Fomos apoiados porque éramos honestos e tínhamos convicção. Quem não tem convicção, que muda de casaca como vimos nesses últimos quatro anos, não merece apoio dos trabalhadores e do povo", afirmou.

FHC tem dito que apesar de 2005 ter sido um "ano perdido" no campo político, há um fato importante revelado pela crise. "A sociedade e a economia se separaram da política. A economia, graças em grande parte ao que já foi feito e que o governo Lula continuou e ao clima positivo da economia mundial, prossegue funcionando bem. Quanto à sociedade, não existem neste momento protestos, greves, nada disso", disse ele recentemente.

Discurso honesto

Os neoliberais sabem que a popularidade de Lula vem exatamente destes extratos sociais “humildes”. O ex-presidente está claramente fazendo demagogia. Seu discurso honesto é aquele dirigido aos chamados "mercados" – o único ponto de apoio sólido à plataforma política do seu candidato. Há pouco tempo ele lançou uma “advertência” para esses agentes ao dizer que a reeleição de Lula pode levar o Brasil para o “populismo”. "Eles vêem uma nuvem lá longe sem se dar conta de que ela vem na direção deles", disse ele. "O mercado não é um instrumento muito rápido na inteligência dos acontecimentos", afirmou. (É preciso esclarecer uma coisa: o "mercado" ao qual se refere FHC não é o representado pela célebre mão invisível de Adam Smith. É aquele grupo de gente que compra e vende, todas as horas, todos os tipos de papel financeiro.)

Diante disso, claro, FHC vê a reeleição de Lula como um risco. "Eu acho que o risco de uma reeleição pode acontecer porque não podemos dizer que o presidente Lula está perdido, mas o que é preocupante é que pode haver uma reeleição em termos muito negativos para o Brasil, por causa dessas circunstâncias", disse ele. "Você terá de novo riscos de uma situação populista, porque as bases de apoio para a reeleição serão diferentes do que foram", afirmou. Para ele, o próximo presidente terá de fazer, com mais amplitude, as reformas da Previdência e trabalhista, e ter muita "ausetridade" na "questão fiscal".

Ingênuo

É a velha cantilena dos partidos conservadores, que surgiram no Império, mandaram na República Velha, atentaram contra os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, e, mais recentemente, sustentaram a "era" neoliberal. Em 1989, Lula não desceu aos subníveis do discurso político de Fernando Collor de Mello. Collor recusou-se a debater com os adversários, pautou suas intervenções pela frase de efeito e pelo que seu público-alvo queria ouvir, não por seu projeto para o país, e lançou mão de expedientes sórdidos de campanha sempre que os julgou necessários. Ganhou.

Lula norteou sua campanha, de modo geral, pela ética de não atacar os adversários pessoalmente e pela transparência de dizer francamente o que iria fazer na Presidência. Foi taxado de ingênuo por tender à verdade e de despreparado por não contra-atacar Collor em seu terreno marrom. Perdeu. Se em 1989, a derrota potencializara o candidato da Frente Brasil Popular — especialmente pelo destino que teria Collor — a derrota, em 1994, estigmatizou Lula como um candidato que pregava contra a "modernidade". Os adversários eram FHC e suas circunstâncias — oponentes duros. Lula liderou as pesquisas com boa margem por muito tempo. E fez a uma campanha acertada, plural: cortava o Brasil vicinal com a Caravana da Cidadania e discutia o futuro econômico do país com o empresariado nacional. Não ganhou, simplesmente, porque o momento era o de consolidar as linhas mestras do conservadorismo.

Legado

O ataque ao vice de Lula, José Paulo Bisol, serviu de estopim para a derrocada da campanha. (Bisol foi acusado de manipular verbas do orçamento para beneficiar suas terras. A "denúncia" do Zero Hora, de Porto Alegre, não foi provada e o jornal teve de pagar indenização de R$ 1,191 milhão ao ex-candidato a vice.) Mas o tropeço de Rubens Ricupero, sucessor de FHC no Ministério da Fazenda do governo Itamar Franco, não representou qualquer arranhão à campanha tucana. (Antenas parabólicas captaram uma conversa informal entre Ricupero e o repórter da Rede Globo Carlos Monforte. "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde", disse ele.) A "grande imprensa" viu enorme gravidade no primeiro caso e quase nenhuma no segundo. O país acabou embarcado no bonde de FHC, mas à primeira chance fez a baldeação.

FHC governou basicamente por meio da corrupção. Seu Ministério de Coordenação Política, ocupado pelo conhecido corrupto Luiz Carlos Santos (PFL), virava o Congresso de pernas para o ar para arregimentar os votos necessários às aprovações dos seus projetos. O fato de a maioria dos escândalos surgidos no governo FHC ter como envolvidos figuras de ponta da sua base de apoio aponta para a conclusão óbvia de que acima de tudo existia um projeto a ser levado adiante. A corrupção e o retrocesso nos direitos individuais e coletivos nesse período exauriram as energias do país – que, com o governo Lula, começam a ser recuperadas. A desconstrução nacional da "Era FHC" talvez seja o pior legado que um presidente tenha deixado em nossa história.

 

Com agências