Se eleito, Obrador deve rever Nafta, diz assessor

Segundo Porfirio Muñoz Ledo, chefe do conselho de assessores de López Obrador, o candidato de centro-esquerda deverá rever comércio com os EUA, reformar o Estado e se aproximar dos países latino-americanos, destacadamente o Brasil e a Venezu

Para muitos analistas mexicanos, Muñoz é o homem mais preparado do círculo próximo ao candidato opositor. Muñoz, de 64 anos, foi ministro da Educação nos anos 70, um dos negociadores do Tratado de Livre Comércio (TLC) do México com a União Européia e autor do maior projeto de reforma do Estado mexicano, que acabou não sendo executado pelo governo Vicente Fox.

 

Muñoz foi também um dos fundadores do Partido da Revolução Democrática, o grande partido da esquerda mexicana. E apoiou Fox em 2000, "para juntos tirarmos o PRI do poder". Agora, se diz frustrado com o governo que ajudou a eleger.

Se López Obrador for eleito no domingo, o que muda na relação com os EUA?

Porfirio Muñoz Ledo – Não nego que o Nafta tenha sido uma locomotiva para a economia mexicana. Mas só alguns poucos vagões ganharam velocidade. Outros ficaram para trás. A desigualdade social cresceu, já somos quase como o Brasil. O norte enriqueceu e o sul continuou pobre. O país investiu no modelo exportador, mas esqueceu de seu mercado interno.

 

O senhor quer dizer que o México vai renegociar o Nafta?

Muñoz – Alguns empresários já concordam com López Obrador. Temos de rever o Nafta, modificar algumas cláusulas. É hora de defender nossos interesses, nossa indústria. A globalização pede um nacionalismo mais sofisticado. Não vamos nos fechar. Mas temos de saber nos defender.

 

O que mudaria na política externa?

Muñoz – O México voltará a ter política externa. Desde o governo Salinas de Gortari, nossa diplomacia virou um apêndice dos EUA. Houve um superdimensionamento do peso da Casa Branca.

 

Parte do Itamaraty não acredita que o México consiga sair da órbita dos EUA.

Muñoz – Sei que, para parte da diplomacia brasileira, o México é visto como inimigo, como parte dos EUA, mas asseguro que somos completamente latino-americanos. Com a vitória de López Obrador, o México vai se aproximar mais do Brasil. Pena que alguns diplomatas brasileiros vejam o México com desconfiança. Como se o cowboy americano tivesse ficado com a noiva mexicana.

 

Seu candidato tem prometido obras milionárias, pensões para todos os pobres, aumentos de salários. O candidato Felipe Calderón diz que a esquerda quebraria o pais.

Muñoz – Haverá um fortalecimento do Estado no governo López Obrador, e isso não é ruim. Boa parte dos problemas dos países desenvolvidos deriva da fraqueza do Estado nas nações periféricas. Terrorismo, tráfico de drogas e imigração ilegal são frutos de Estados incapazes no Terceiro Mundo.

 

Em que López Obrador parece o venezuelano Hugo Chávez?

Muñoz – A maior semelhança é que ambos são das regiões caribenhas dos seus países. Falam de forma parecida, só isso. Obrador é um universitário, criado nos movimentos sociais, um civil, bem diferente do presidente venezuelano. Mas não vou demonizar Chávez. A união entre México e Venezuela é fundamental, estratégica. Juntos, os dois países fornecem mais de um terço do petróleo que os EUA consomem.