Artigo revela por que a História subestimou a gravura

A jornalista Margarida Nepomuceno, editora de “Cores Primárias” (www.coresprimarias.com.br), é a autora do artigo “A Gravura”, que condena a forma como a historiografia b

A Gravura

Por Margarida Nepomuceno (Carta Maior)

Nem sempre a gravura recebeu da historiografia brasileira o tratamento que lhe conferisse igualdade de posição com as artes consideradas nobres e tradicionais, como a escultura ou a pintura. Ainda assim, o Brasil conseguiu concentrar, principalmente na metade do século 20, grandes gravadores como Goeldi, Livio Abramo, Marcelo Grassmann, Fayga Ostrower, Iberê Camargo.

Entender o processo que levou o Brasil a concentrar, principalmente, na metade do século 20, grandes gravadores como Goeldi, Livio Abramo, Marcelo Grassmann, Fayga Ostrower, Iberê Camargo, e tantos outros é fazer um exercício de revisão da arte brasileira. Isto porque nem sempre a gravura recebeu da historiografia brasileira o tratamento que lhe conferisse igualdade de posição com as artes consideradas nobres e tradicionais, como a escultura ou a pintura.

O quanto essa visão prejudicou o desenvolvimento da gravura no Brasil é difícil de avaliar, mas o certo é que grandes nomes como os já citados, construíram ao longo de dezenas de anos uma tradição de qualidade inquestionável comprovando o poder da gravura como linguagem expressiva e independente.

A criação de gabinetes de gravuras, particulares e públicas, de galerias especializadas, e o empenho de museólogos, curadores, artistas, editores, críticos e pesquisadores de arte, sobretudo, tem dado maior visibilidade a essa produção.

Desde o início do ano, museus, galerias e institutos de São Paulo vêm promovendo inúmeras mostras com alguns dos principais gravadores do país e contribuindo para diminuir a distância entre o público e o maravilhoso universo da gravura.

Por meio de um projeto de recuperação de matrizes de gravuras, pertencentes à artista Anita Malfatti ( 1889-1964), o IEB – Instituto de Estudos Brasileiros – revelou através da mostra “Anita Malfatti Gravadora: uma recuperação” produção pouco conhecida do público.

Os trabalhos de Livio Abramo (1903-1992) estiveram durante três meses no Instituto Tomie Ohtake, na mostra “Livio Abramo, Sempre” exibindo algumas gravuras inéditas. Centenas de visitantes, incluindo o público estudantil de São Paulo e de outras cidades do Interior tiveram, pela primeira vez, contato com trabalhos feitos em gravuras. Maravilharam-se com o virtuosismo expressivo de Livio Abramo. No Instituto Moreira Salles, em Higienópolis, e na Galeria Unibanco Arpflex, na Bela Vista, Marcelo Grassmann recebe uma justa homenagem aos seus 80 anos de vida e 60 como gravador, com duas mostras de gravuras e de desenhos.

No Museu Lasar Segall, a exposição “Gravuras de Segall: processos poéticos” revela a preocupação dos curadores em mostrar os caminhos da criação percorridos pelo artista na produção de seus trabalhos em gravura. E para completar, 92 trabalhos de Picasso, dentre os quais “Jacqueline aux chaveaux flous”, foram trazidas pelo Circuito Cultural Banco do Brasil, da Itália, para uma mostra itinerante denominada “Picasso: Paixão e Erotismo” que já percorre o Brasil afora desde abril.

A importância de Fayga Ostrower, Iberê Camargo, Goeldi- considerado o precursor da gravura moderna brasileira – Evandro Carlos Jardim, além da alemã Käthe Kollwitz são objetos de reflexão por parte de críticos e historiadores de arte.