Alckmin propõe em Lisboa marcha-à-ré na política externa

Por Bernardo Joffily


O candidato presidencial conservador, Geraldo Alckmin (PSDB-PFL) desembarcou nesta segunda-feira (10) em Lisboa atacando a política externa que o Brasil tem seguido. "O Brasil não pode f

Trata-se de uma questão de prioridades. Alckmin indicou sem rodeios: “A prioridade é para onde houver possibilidade de mercado”. O Brasil com Lula, sem voltar as costas para os grandes mercados dos Estados Unidos, tem feito um esforço justamente para ampliar suas relações diplomáticas e comerciais. Descobriu a China, o Oriente Médio, a África, e sobretudo os “hermanos” do Mercosul.

O que mostram os números

Alckmin não concorda. Acha que isso é partidarização. Disse em Lisboa, por duas vezes, que com ele o Brasil colocaria “os interesses da nação à frente dos interesses partidários” – numa crítica à aproximação com a Venezuela, a Bolívia, a Argentina. Os gráficos ao lado, porém, mostram que a diversificação dos parceiros só beneficiou as exportações brasileiras.

Compare os dados de 2002, último ano do governo Fernando Henrique, com os do ano passado. As exportações do país saltaram de US$ 60,4 bilhões para US$ 118,3 bilhões. O Brasil até ampliou sua presença no mercado estadunidense (de US$ 15,4 bi para US$ 22,5 bi) e europeu-ocidental (de US$ 15,4 bil para US$ 26,5 bi).

Porém o grande negócio foi passar a atentar para o resto do mundo, que antes ficava confinado com menos da metade das exportações (49%, para ser preciso, contra 25,5% para os EUA e outro tanto para a UE). É daí que vem a maior parte do enorme e crescente superávit comercial brasileiro, de US$ 21,2 bilhões no acumulado de 2006, até a primeira semana de julho.

Isso “isolou” o país? Pelo contrário. O gráfico de baixo, com as exportações ano a ano mostra como a posse de Lula iniciou uma virada – que continua em 2006. Mostra também como melhorou o perfil brasileiro como exportador, com os produtos manufaturados ampliando a sua fatia.

Jornalistas estranharam e questionaram

Os jornalistas europeus presentes na coletiva em Lisboa estranharam e questionaram o ímpeto criticista do candidato logo neste item. Para quem enxerga o Brasil de fora, como eles, o prestígio internacional de Lula e os êxitos diplomáticos do Itamaraty são quase que um lugar comum. Indagaram até se isso não vai dar votos à reeleição.

"Não acredito que a política externa possa ser um triunfo eleitoral. Pelo contrário", contestou Alckmin, contrariado com a pergunta. E atacou os acordos bilaterais do Brasil com outros países da América Latina, nomeadamente a Bolívia, chamando a ação de Brasília de "dúbia" e "submissa".

Qual isolamento, cara-pálida?

Eis o que pensa Geraldo Alckmin sobre política externa. Assinar um famigerado TLC (sigla de Tratado de Livre Comércio) –  como o que fez o povo do Equador derrubar seu presidente, ou o que está empacado no Peru depois que Alan García foi eleito para suceder o capacho Alejandro Toledo – é um exemplo a seguir. Fazer negócios e diplomacia com o Norte e o Sul, sem preconceitos, é “isolamento”.

É bom que Alckmin exercite o seu apregoado lado “zen”, pois a diplomacia sem preconceitos do governo Lula veio para ficar. A imprensa reproduz hoje as palavras do secretário de Comércio Exterior do Itamaraty, Armando Meziat, dizendo que foi-se o tempo em que o país concentrava seu comércio externo nos EUA e na Eyropa: “Esse caminho é irreversível”, sentencia Meziat (clique para ver: http://oglobo.globo.com/jornal/economia/284803075.asp).

14 novas embaixadas neste governo

Não se trata só de comércio. Desde o início do atual governo, em janeiro de 2003, o Itamaraty abriu ou reabriu 24 postos diplomáticosno exterior, dos quais 14 embaixadas, a maioria em nações africanas, sul-americanas, caribenhas e centro-americanas.

Geraldo Alckmin, com  sua lógica peculiar, pode chamar isso de isolamento. O fato é que está dando certo como nunca. Pela primeira vez, desde que Ruy Barbosa andou pela Conferência de Haia, em 1907, o Brasil trata de ocupar o seu espaço no mundo, e consegue.